sáb, 7 setembro 2024

Crítica | O Filme da Escritora

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É interessante notar esse impacto que o diretor Hong Sang- Soo conseguiu criar em cima dos seus filmes, tanto de maneira positiva quanto “negativa” na comunidade cinéfila. Muitos apontam essa maneira quase religiosa de como ele filma seus longas, sempre com os mesmos atores, planos parecidos, é uma abordagem bastante específica em que ele trabalha suas obras, pouco vista no cinema contemporâneo. Em paralelo temos as manias Hollywoodianas de se fazer um filme, exemplo mais fácil de usar é o universo cinematográfico da Marvel, sempre seguindo aquela fórmula funcional. Aqui, em O Filme da Escritora, temos os famosos closes de câmera, personagens bêbados conversando, mas com um diferencial, uma clara brincadeira com esse universo de filmes pertencentes á sua carreira.

Junhee é uma escritora famosa que decide viajar a uma parte remota do país para encontrar uma amiga que não via há anos. No caminho, reencontra um cineasta que prometeu adaptar seu livro nos cinemas, mas jamais cumpriu com o trato. Durante diversas conversas, a escritora decide fazer um curta metragem.

A personagem Junhee deseja fazer seu primeiro filme, uma vontade que surge de maneira até aleatória durante o filme, mas que dá nome ao mesmo. Enquanto conta a novidade para conhecidos e amigos, ela é questionada sobre o enredo da obra, e sua única resposta é “Não sei”. Sua visão em apenas querer filmar cenas casuais, sem propósito claro de uma história, de retratar passeios no parque até conversas casuais de bar, tudo isso traz um claro espelho de toda essa trajetória do diretor Hong Sang-Soo, conhecido por sua gigante mão autoral. É uma maturidade encontrada pelo diretor em tratar de forma tão bonita esse amadorismo projetado nos personagens de seu filme.

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Divulgação

Toda aquela fantasia realista muito passada Encontros(2021), desde o improvável até o destino da personagem alterado por ela mesmo. Tudo isso é ressaltado aqui novamente pelo diretor, e combinado ao reflexo do mesmo quanto seus métodos cinematográficos. Os personagens seguem uma linha narrativa quase como um “conto de fadas”, se inicia em um lugar comum, nossa protagonista vai passeando pela cidade e vai encontrando casualmente pessoas pelo seu trajeto, sua história é moldada de forma tão improvável que é impossível não estabelecer semelhanças com a vida real.

Para os mais fãs do cineasta, seu conforto audiovisual é totalmente visto aqui, desde planos longos e fixos, o zoom característico durante as cenas, o reenquadramento das mesmas, as conversas divertidas entre os personagens bêbados, os atores conhecidos sempre presentes nas diversas obras do diretor. Outro detalhe genial do Soo é inserção do perdido de pandemia durante sua história, mas de forma totalmente natural, sem explicações ou falas expositivas.

O Filme da Escritora trata a banalidade de forma excelente, é uma homenagem para os artistas tão apaixonados e com propósitos tão simples e puros ao conceber suas obras. É uma naturalidade absurda que o diretor constrói, são tantos detalhes perceptíveis. Desde deixar cair algo durante uma conversa, desde a procura de um banheiro pelo parque, as constantes dúvidas ao usar máscara(no queixo). São formas de contar história que tornam o trabalho de Hong Sang-Soo único, não existe até o momento um esgotamento de suas obras, mas justamente o contrário, um diretor com tanto a oferecer só torna justificável o lançamento de dois ou três filmes de sua autoria por ano. Filmão!

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