ter, 7 maio 2024

Crítica | O Próprio Enterro

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The Burial foi exibido no festival de Toronto e conquistou as audiências com a história de Jeremiah “Jerry” O’Keefe, um pequeno empresário do Mississipi, que contrata um excêntrico advogado, Willie E. Gary, para representa-lo em um litigio contratual contra uma grande empresa funerária, o grupo Loewen. A narrativa é típica de um drama de corte sobre o homem comum que desafia o corporativismo com bravura, ainda que tudo conspire contra seu favor.

É muito forte, desde o início, o senso de bem contra o mal, dispensadas quaisquer nuances, Jerry aparece sempre com um olhar sofrido e um discurso manso, mesmo quando eleva o tom de voz suas palavras são dóceis, essa ideia é também constantemente reforçada por elementos extratextuais, como a fotografia que o trata a todo tempo como um mártir e a trilha sonora suave que o circunda, além, é claro, do próprio texto que enfatiza como esse homem disse não ao KKK, lutou na segunda guerra mundial, é um patriota americano que não glorifica as disputas armadas, mas tem orgulho de servido seu país e seu único desejo é poder deixar a empresa da família nas mãos de seus netos. E para fechar com chave de ouro, ainda há o amor de sua vida, a esposa, cujo único papel narrativo é sentar ao seu lado, apoia-lo incondicionalmente e sorrir para ele com ternura. Já seria fácil torcer para alguém disposto a lutar contra uma grande corporação, o que não é suficiente para esse filme que faz questão de beatificar seu protagonista.

Existe uma cena particularmente ruim que serve para elevar a enésima potência o ar triunfista do bem sobre o mal, envolvendo uma negociação que termina com o protagonista dando uma respostinha de quinta série para o vilão. Só faltou descerem os óculos escuros ao som de turn down for what. O pior é que dá para ver o quanto os roteiristas se sentiram inteligentes escrevendo aquilo.

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Tudo é propositalmente elevado ao exagero, para enfatizar com o tom caricato da proposta, todavia o que era para ser engraçado acaba se tornando enfadonho. Embora o longa seja estruturado como uma comédia, não consegue fazer rir em nenhum momento, as piadas são batidas e o humor beira o pastelão. Fica o adendo, quem se diverte com esse estilo de gracinha anos 2000, pode achar algum deleite na obra, o que talvez explique sua aclamação no festival.

Divulgação | Prime Video

As relações humanas são precariamente desenvolvidas, algo que deveria ser essencial nesse tipo história, fica completamente escanteado e ao invés de mostrar a progressão dos laços, o roteiro toma atalhos e coloca os personagens a declararem coisas como “você já é da família” e assim fica estabelecida a relação entre aquelas pessoas. Um filme com mais de duas horas não deveria precisar desse tipo de facilitador, mas existe uma dificuldade em gerenciar o tempo despendido com cada subtrama, de forma a não sobrar tempo para a construção das amizades.  

Apesar de canastrão, o filme não chega a ser péssimo, a parte da trilha sonora cafona e forçada, não tem nenhum defeito gritante, as performances por si só fazem a experiência valer a pena e existe um esforço para prender a atenção do público, ainda que logo no início já seja possível prever o final. Também não consegue ser bom, com exceção do esforço desempenhado pelos atores Jamie Foxx e Tomy Lee Jones, não há nada que seja propriamente mérito desse filme – algo bem irônico num longa fascinado pela ideia de meritocracia. São clichês genéricos que não machucam, mas já foram melhor utilizados em outras obras mais memoráveis. Cumpre sua função de adição de catálogo, sem torturar o espectador, que irá esquecê-lo antes de conseguir odiá-lo ou sentir qualquer forte emoção em relação a ele.

O final só poderia ser descrito como completamente anticlimático, já que o grande discurso do advogado é utilizado cedo demais e a leitura do veredito vem quase que do nada, é como se em algum momento a diretora se lembrasse que o filme precisava acabar e encerra-o de qualquer jeito.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
The Burial foi exibido no festival de Toronto e conquistou as audiências com a história de Jeremiah “Jerry” O’Keefe, um pequeno empresário do Mississipi, que contrata um excêntrico advogado, Willie E. Gary, para representa-lo em um litigio contratual contra uma grande empresa funerária, o...Crítica | O Próprio Enterro