sex, 22 novembro 2024

Crítica | O Protetor 3 – Capítulo Final

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O cinema de ação, tipicamente associado ao público masculino, é um gênero que tem estado presente desde os primórdios da história cinematográfica. Essas narrativas têm a tendência de explorar a força, a violência e a virilidade de seus protagonistas masculinos. Em geral, essas histórias apresentam heróis ou anti-heróis com dilemas morais, que frequentemente desafiam as normas sociais, mas agem de acordo com sua própria interpretação do que é certo e errado. Em muitos casos, esses filmes criam antagonistas cruéis e desumanos que representam uma ameaça séria, justificando, assim, a violência aos olhos do público. A violência é retratada como uma resposta necessária para enfrentar ameaças graves, e o herói muitas vezes age fora dos limites da lei, assumindo a responsabilidade pela aplicação da justiça. De fato, o diretor Antoine Fuqua é um exemplo que segue essa tradição do “cinema masculino”.

Ele é reconhecido por sua habilidade em criar filmes de ação e dramas intensos que frequentemente exploram dilemas morais complexos e apresentam personagens multifacetados. Uma das características mais distintivas de Fuqua como diretor é sua abordagem meticulosa das questões éticas e dos dilemas morais enfrentados por seus protagonistas. Um exemplo notável desse aspecto de sua filmografia é “Training Day”, onde a trama gira em torno de um detetive de narcóticos corrupto e um jovem policial idealista. Esses personagens se veem confrontados com situações éticas desafiadoras, o que adiciona profundidade à narrativa e enriquece a complexidade de seus personagens.

Seus protagonistas não são reduzidos a uma simples dicotomia entre o bem e o mal, mas são retratados com nuances que tornam suas motivações e ações mais complexas. Por exemplo, em “Shooter” (2007), temos um atirador de elite em busca de vingança contra conspiradores corruptos, e sua jornada é permeada por uma profunda ambiguidade moral. Já na trilogia de “O Protetor,” Fuqua apresenta um protagonista que personifica o clássico arquétipo do herói “conservador” que recorre à violência em defesa dos inocentes, conferindo-lhe uma aura quase milagrosa aos olhos dos virtuosos. Ao mesmo tempo, essa abordagem lança uma espécie de maldição sobre os vilões da trama. Os atos de brutalidade são enxergados através da famosa perspectiva do “bandido bom é bandido morto”, frequentemente proferida pelo conservadorismo.

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Sob essa perspectiva, O Protetor 3 exibe uma notável consciência de sua própria narrativa, mantendo uma sinceridade que evita que seu conservadorismo se torne excessivamente intrusivo. Na realidade, essa abordagem que se assemelha à figura de um pastor protetor dos justos se integra de maneira harmoniosa ao enredo. Roberto, portanto, representa como um anjo protetor das pessoas de bem e a uma representação demoníaca da morte para aqueles que perpetuam o mal. A maneira como Antoine retrata essa ideia na imagem torna tudo ainda mais evidente, pois Roberto se oculta nas sombras, quase como a própria personificação da morte, inescapável e implacável. Ele é retratado como invulnerável, invisível e indiferente diante da violência, assim como a própria morte, destituído de qualquer temor.

No entanto, o problema que enfrenta o filme repousa na forma como o diretor constrói e desenvolve sua narrativa. O espectador se depara com um notável distanciamento em relação à ação em si, uma vez que o longa busca criar uma obra “inteligente”, repleta de complexidades emocionais (algo até mais exagerado que o diretor costuma trazer). No entanto, o suspense carece do desenvolvimento da tensão, permanecendo constantemente em um estado de frieza que limita a conexão do público com a trama. Esse distanciamento se estende até mesmo às cenas de ação, que, embora visualmente impactantes, não conseguem gerar entusiasmo e excitação.

Nesse contexto, o filme busca um apelo mais profundo, onde Antoine Fuqua parece direcionar menos sua habilidade no que ele faz de melhor, ou seja, criar cenas de ação envolventes, em prol de estabelecer uma conexão mais significativa com o público. Essa tendência de priorizar o aspecto emocional sobre a ação tem se tornado cada vez mais comum no cinema de ação contemporâneo. Não é que a complexidade seja dispensável, porém, quando ela passa a predominar em relação aos elementos próprios e diretos do cinema de gênero, isso sim se torna um problema. Assim, “O Protetor 3” se configura como o filme menos estimulante dos três, apesar das raízes narrativas do diretor que o caracterizam.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
Entre viagens pelas galáxias com um mochileiro, aventuras nas vilas da Terra Média e meditações em busca da Força, encontrei minha verdadeira paixão: o cinema. Sou um amante fervoroso da sétima arte, sempre pronto para compartilhar minhas opiniões sobre filmes. Minha devoção? Cinema de gênero, onde me perco e me reencontro a cada nova obra.
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