Mesmo não sendo algo necessariamente recente, é possível dizer que o chamamos de Horror folk, esse que se apoia na ritualística de comunidades isoladas e suas crenças (entre outros fatores), passou por uma renovação de interesse popular nos últimos anos e neste contexto nasce o filme de William Brent Bell: O Senhor do Caos. Um longa que tem como base toda uma criação de mitologia local mas que talvez não tenha levado tanto em conta o valor que se tem em experimentar com diferentes formas de organização social, ou pelo menos a estranheza que vem com um embate entre elas.
A história acompanha Rebecca (Tuppence Middleton), reverenda recentemente alocada na cidade de Barrow no interior do Reino Unido que tem sua vida revirada de cabeça para baixo após o desaparecimento de sua filha, Grace, durante a comemoração de um festival da colheita local. A partir do ocorrido, Rebecca não medirá esforços para desvendar as circunstâncias que levaram a essa situação, e para isso ela precisará entender um pouco mais sobre a história por trás deste povoado.
A trama em si em muito se assemelha a filmes como O Homem de Palha (1973), e a referência não é sutil. A diferença talvez seja que em O Senhor do Caos toda a construção de tensão entre a investigação de Rebecca e os moradores de Barrow soe um tanto derivativa. O filme não se preocupa muito com a construção de uma comunidade operante a partir de outros costumes para além de cenas potencialmente chocantes ou de revelações com o intuito de movimentar a história. As revelações em si nem causam impacto uma vez que não existem ideias para a estrutura desse filme que o diferenciem de tantos outros que vieram antes. E mesmo que o recorte aqui seja o de uma relação mais íntima, no caso a de mãe é filha, essa junção de cenário e foco narrativo em nada se ajudam nessa história, que apenas se ouve em direção a uma conclusão anunciada.
A falta de ideias não chega a estragar o filme por completo mas faz como que ele acabe se tornando uma experiência um tanto apática. E se a amplitude de temas aproveitados pela trama é mínima, o filme enquanto expressão estética também não chega a lugares inusitados. Mesmo com algumas ideias interessantes para o figurino, não se aproveita muito na direção e na construção simbólica do filme que consiga causar uma impressão. Nem mesmo algumas escolhas acertadas para caracterizar os personagens, como a escolha de Ralph Ineson com sua profunda voz para interpretar o estranho Jocelyn Abney, conseguem remover esse tom apático do longa.
O Senhor do Caos no fim se reserva ao lugar de mais uma experiência de diluição de ideias que foram melhor aproveitadas anteriormente por outros. Se o filme investe na construção de uma mitologia própria ao redor de elementos tão fundamentais para comunidades rurais, como a colheita, e nas dificuldades da maternidade como fio condutor, nenhuma dessas propostas consegue se acomodar de forma interessante dentro de uma narrativa sem emoção ou brilho.