Sempre que nos deparamos com alguém que tem alguma deficiência, geralmente, a primeiro momento, pensamos em como nossa vida poderia sem complexa ou difícil se fosse diferente. A realidade ainda pode ser mais dura no caso de uma deficiência acometer a pessoa que usa ou depende de determinado sentido para trabalhar e/ou viver. É usando essa ideia que O Som do Silêncio (Sound of Metal) da Amazon Prime nos leva a entender com ainda mais clareza o quão frágeis somos, e, como poderíamos lidar com alguma limitação ainda não existente na vida.
O filme conta a história do baterista Ruben (Riz Ahmed), que tem uma banda de Heavy Metal com sua namorada Lou (Olivia Cooke). Os dois estão prestes a começar uma turnê pelo país, quando Ruben começa a dar sinais de perda de sua audição. A primeiro momento, ele ignora os sinais, mas devido aos anos de comprometimento dos ouvidos pela música excessivamente alta, a situação se degrada bastante. A preocupação dele neste ponto é descobrir o que ainda pode fazer com a audição que lhe resta; como continuar com os shows e com sua namorada!
Ao descobrir que a perda de sua audição é irreversível, impossibilitando o mesmo de tocar e entender tudo que sua namorada diz, os traumas do passado começam a lhe atormentar novamente, por ser um ex viciado. Neste ponto é importante destacar o uso da edição de som no filme, alternando entre momentos de puro silêncio e de som normal cotidiano, estando ou não focados no personagem principal.
Lou, que também tem um passado complicado, que não é tão detalhado no filme, mas da pra notar pelas várias cicatrizes no pulso é de fato a pessoa que se torna a rocha para Ruben, o ajudando a encontrar um lugar para que o mesmo possa aprender a se cuidar, aprender a se comunicar (com sinais), mas também o separando da vida no novo caminho que ele tende a trilhar. Aqui o filme nos apresente a incrível Paul Raci, diretor de uma clínica de para deficientes auditivos que ajuda Ruben a entender que seu mundo mudou e que ele precisa aprender a conviver e sobreviver com sua deficiência.
Aqui a edição nos mostra o quão complicado seria ter de reaprender a viver sem saber se comunicar normalmente, e sem conseguir ouvir, mas também mostra que é possível apesar de todas as dificuldades. O filme se torna mais sensível. Se no início os gritos e o extremo barulho do Heavy metal dão ritmo, aqui, o som do vento e os pássaros dão a calma para ajudar na nova vida.
A fotografia do filme também muda bruscamente, saindo do preto noir do início e se elevando, a medida que Rubem encontra um novo caminho, para tons calmos e belos, com paisagens diversas mas extremamente bem detalhadas.
Ainda cheio de reviravoltas, o filme ensina uma lição gigante sobre o querer e o poder em casos onde as pessoas não detém controle do que pode ser feito, ou curado. Com uma carreira promissora no início, o fim de Rubem apesar de dramático, é compreensível, e de uma forma para o público, justificável e triste.
O longa peca apenas em se estender mais do que deveria, criando pontas que não são úteis ao roteiro.
No mais, é um filme belo, para se ver e ouvir com atenção, com atuações individuais perfeitas e, que serve para refletir ainda mais em como poderíamos nos comportar caso algo mude completamente nossa vida, de uma hora pra outra.