qui, 21 agosto 2025

Crítica | O Último Azul

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O novo filme do diretor recifense Gabriel Mascaro ganhou as manchetes em janeiro quando venceu o Urso de Prata, o Grande Prêmio do Júri, no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2025, em um começo de ano empolgante para o cinema brasileiro que viria a ser reconhecido no Oscar na semana seguinte, com o prêmio de Melhor Filme Internacional para ‘Ainda Estou Aqui’ (2024). O diretor já é conhecido no país por filmes como ‘Boi Neon’ (2015) e ‘Divino Amor’ (2019). Além dele, o elenco conta com nomes como Denise Weinberg, Rodrigo Santoro e Miriam Socarrás e chega aos cinemas brasileiros no dia 28 de agosto.


Tereza (interpretada por Denise Weinberg), uma mulher de 77 anos, recebe uma ordem do governo para deixar sua casa e se mudar para uma colônia habitacional destinada aos idosos. Antes que parta, ela parte numa jornada em busca de realizar um último desejo.

Créditos: Vitrine Filmes/Viking Film

Normalmente, quando vemos um filme que parece mais quieto, o grande público já o associa de imediato à ideia de ser “chato”, talvez pelo principal cinema consumido por esse grande público ser um que precise ficar gritando para ser notado. Mas essa associação é apenas uma falácia. Em ‘O Último Azul’, Mascaro não entrega essa trama de maneira convencional, e talvez aí resida a força deste filme. Em vez de conduzir o espectador por um caminho de fácil assimilação, o diretor prefere a cadência do silêncio, da pausa e da contemplação, permitindo que os espaços, as cores e os pequenos gestos se tornem protagonistas ao lado da narrativa. É um cinema que se constrói na ausência de pressa, recusando a lógica do imediatismo e exigindo um olhar atento, paciente, disposto a se perder nos detalhes. Essa escolha estilística não apenas define o tom da obra, como também se conecta intimamente com a experiência da personagem central, que vive em um tempo distinto daquele que o mundo ao redor insiste em impor. Ao desacelerar o ritmo, Mascaro faz com que cada imagem carregue um peso simbólico, espelhando tanto a melancolia da velhice quanto a beleza que ainda resiste em meio ao descaso social.

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A obra se desdobra como a suavidade do rio que leva Tereza até o seu sonho, conduzindo o espectador por águas turvas de reflexão e emoção. A paleta de cores, ora azulada, ora amarelada, cria uma atmosfera de nostalgia e contemplação, onde cada cena parece suspensa no tempo, como se o próprio filme estivesse envelhecendo diante dos nossos olhos. A história de Tereza, uma mulher de 77 anos que se vê forçada a deixar sua casa para viver em uma colônia habitacional para idosos, é mais do que uma simples narrativa de resistência; é um mergulho profundo nas águas da solidão, da marginalização e da busca por dignidade em um mundo que insiste em descartar aqueles que já não produzem como antes. Mascaro, com sua direção sensível, transforma essa jornada em uma meditação sobre o que significa envelhecer em uma sociedade que valoriza apenas a utilidade imediata. O ritmo suave e parado do filme, aliado a uma fotografia que captura a beleza melancólica da Amazônia, convida o espectador a desacelerar e refletir sobre o destino dos que, como Tereza, são considerados “descartáveis” quando já não servem aos interesses econômicos. Em sua busca por um último desejo, Tereza não apenas desafia as imposições do governo, mas também nos força a confrontar nossas próprias atitudes em relação ao envelhecimento e àqueles que, por sua idade, são invisibilizados. Acho importante também destacar a atuação espetacular de Denise Weinberg, que carrega todo peso que sua personagem pede durante cada segundo que está em tela. Rodrigo Santoro, apesar de aparecer por pouco tempo, também causa um impacto grande para o que a obra propõe, em mais um grande trabalho na sua carreira.

‘O Último Azul’ é uma obra que revela, em seu ritmo lento e melancólico, a persistência da humanidade diante do abandono, lembrando que mesmo quando a sociedade insiste em descartar vidas, ainda resta beleza e dignidade a serem contempladas.

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Rui Filhohttp://estacaonerd.com
Recifense, cinéfilo e estudante de Cinema desde 2020, graduando em Publicidade e Propaganda. Apaixonado por arte, amante dos esportes, curioso sobre tudo e sempre em busca de algo novo para assistir.
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