Produção franco-israelense, O Último Dia de Yitzhak Rabin (Rabin: The Last Day) é um drama histórico que reconta a história dos últimos momentos da vida do Primeiro-Ministro israelense Yitzhak Rabin, que venceu o Prêmio Nobel da Paz em 1994, mostrando também a investigação sobre seu chocante assassinato no ano de 1995.
Não há momento mais oportuno que este que estamos nos deparando desde outubro deste ano, quando os conflitos entre Israel e a Palestina tomaram proporções drásticas em um nível mais que avançado, para que o drama O Último Dia de Yitzhak Rabin (Rabin: The Last Day), de 2015, chegasse em mais salas de cinema do circuito internacional. Com o nobre intuito de estabelecer uma maior conexão entre o público mais jovem com a história do Primeiro Ministro israelense que virou símbolo de uma possível paz entre o país e os palestinos, a produção, por outro lado, chega discreta no Brasil, nação que ainda enfrenta resquícios de uma direita política radical de seu último governo, ideologia está que culminou no assassinato do famoso premiê israelense e na ascensão do radicalismo no território.
Dirigido por Amos Gitai (Uma Noite em Haifa), O Último Dia de Yitzhak Rabin se destaca pela pretensão de escancarar e condenar, ora veemente, ora o mais automático e regrado possível, o claro interesse político por trás do assassinato do ex-Primeiro Ministro, vencedor do Nobel da Paz, em 1994, por sua atuação diplomática no Oriente Médio, que culminou com os Acordos de Oslo – série de compromissos rumo a um processo de paz assinados em 1993 com o líder palestino Yasser Arafat. O método de direção de Gitai mais se aproxima de um documentário, funcional na medida certa, do que na dramatização de fatos, o que, nesta produção, não foi bem aplicada ou realizada. A reconstrução dos fatos que, em sua maioria, são depoimentos referentes à noite de 4 de novembro de 1995 (dia do atentado contra Rabin que resultou na sua morte), são distribuídos de forma massiva ao longo da projeção, que se estende à cansativas e didáticas 2 horas e 36 minutos, além de serem conduzidas de maneira morna, sem qualquer recurso narrativo ou técnico capaz de permitir uma imersão do público na reconstituição histórica. Repleta de ângulos estáticos, que ignoram fortemente uma boa composição de imagens, a fotografia de O Último Dia de Yitzhak Rabin é falha, chegando, infelizmente, a ser incômoda, principalmente nas longas sequências de depoimentos.
É perceptível a preocupação do roteiro minucioso em apresentar um material tanto crítico quanto didático, que procura ser cirúrgico na apresentação e explicação dos fatos, mas acaba, por sua complexidade, se arrastando, além de não encontrar em sua narrativa uma linguagem adequada para se apresentar, comportando-se como documentário, drama político e thriller investigativo. Caso a produção focasse inteiramente nos acontecimentos durante e após o atentado em Tel Avi, praticado não só pelo estudante fundamentalista de extrema direita Yigal Amir mas por todo o sistema, incluído uma investigação mais instigante e uma divulgação maior das consequências do crime que culminaram na intensificação do extremismo político e social em Israel, o que se propaga até os dias de hoje e se torna cada vez mais evidente.
O Último Dia de Yitzhak Rabin começa dando a entender que a produção de desenvolveria no formato documental, apresentando um generoso trecho de uma entrevista de Shimon Peres, ministro dos Negócios Estrangeiros na época em que Rabin foi assassinado e presidente de Israel entre 2007 e 2014, em que ele relembra a coragem e a resiliência do então Primeiro Ministro ao enfrentar ameaças e acusações da direita do país. Pouco há o que se falar das interpretações dramáticas do longa, que mais parecem simular o que de fato aconteceu, de maneira bem ensaiada, porém mecânica. Estão no elenco Ischac Hiskiya, Pini Mitelman, Tomer Sisley, entre outros. Talvez, a única atuação de destaque tenha sido do intérprete do assassino de Rabin, o ator Yogev Yefet, que brilha em um momento em que Yigal Amir não demonstra qualquer arrependimento pelo crime e que fez isso pelo “bem da nação”, seguindo o típico argumento de um fanático de extrema direita.
Importante para destacar como uma possível paz entre Israel e Palestina, nos anos 90, foi ceifada por puros interesses políticos, O Último Dia de Yitzhak Rabin, por outro lado,poderia ter sido muito mais que uma mera representação de acontecimentos histórica de maneira automática. Seu rico conteúdo acaba por se perder numa produção confusa e longa, que não encontra uma identidade própria, e que ainda conta com recursos técnicos de baixo padrão de qualidade.
Volto a dizer que, caso fosse um documentário, independente de metragem, o resultado da produção seria mais favorável, até pelo fato dela ser indubitavelmente importante para a atualidade.