sex, 4 julho 2025

Crítica | O Urso (4ª temporada)

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O Urso já foi sobre pressão, suor e caos. A panela de pressão emocional e literal de Carmy, Richie, Sydney e companhia já fez a gente prender a respiração por horas a fio. Mas nesta quarta temporada, o que mais salta à mesa não é o fogo alto, e sim a brasa que fica depois dele. A série troca o grito pelo sussurro. O prato esteticamente impecável pela conversa atravessada na cozinha. A urgência de servir pelo desejo de entender. E essa transição, embora desconfortável pra quem esperava o mesmo prato de sempre, é talvez o movimento mais honesto que a série poderia fazer.

Carmy ainda é o Carmy. Mas agora ele é também o homem que se pergunta se estar na cozinha vale tudo o que ele tem perdido. A cena entre ele e sua irmã, Sugar, é um ponto de virada sutil, mas devastador. Ela pergunta sobre paixões. Sobre querer algo fora do restaurante. E a pergunta não é só sobre a Claire ou sobre amor romântico. É sobre a vida. Sobre existência fora da exaustão produtiva.

A conversa entre Sugar e Carmy, lá pelos últimos episódios da temporada, é o tipo de diálogo que fica ecoando na gente por dias. Ela pergunta se ele já pensou em querer algo fora do restaurante, fora da cozinha. “Você encontrou algo que ama, e tá tudo bem se não amar mais.” Essa fala, da Nat, é como uma fresta de luz depois de anos no calor do forno. Carmy não é fraco por estar cansado. Ele só é humano. E quem ainda está preso à ideia de que ele “abandonou o mundo da gastronomia” provavelmente não entendeu o que essa temporada (e talvez a série toda) quis dizer.

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O Urso nunca foi só sobre comida. Sempre foi sobre pessoas. Sobre o peso da herança familiar. Sobre gritar com o que nos falta. Sobre aprender a amar o que sobra.

A estrutura da temporada é moldada por um relógio: Jimmy instala um cronômetro na parede e dá 1.440 horas para que o restaurante se sustente — ou será cortado. Mas, diferente do senso de urgência de temporadas anteriores, esse prazo funciona quase como um espelho. A contagem regressiva é menos sobre tempo e mais sobre o que cada personagem precisa entender antes de seguir. É sobre ciclos que se encerram. Pessoas que mudam de lugar, de função, de papel. E, às vezes, de sonho.

Image Credit FX Networks (via FX Networks Gallery)

Sydney, agora com mais tempo de tela (finalmente!), carrega consigo o frescor da possível continuidade. Sua jornada é menos sobre decidir se fica ou vai, e mais sobre entender a que tipo de vida ela quer se vincular. Ela é coautora de um dos melhores episódios da temporada, que mistura cabelo, prima e existencialismo culinário num salão de beleza. E olha: funciona.

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Richie, por sua vez, segue sua saga de amadurecimento emocional. O episódio do casamento da ex-mulher é uma pequena joia da temporada: engraçado, desconfortável e melancólico. Richie quer ser melhor, mas ainda não sabe como. E sua busca por pertencimento, por ser visto, por ser relevante — seja no salão ou na vida — é uma das linhas mais tocantes da série.

A presença da matriarca Donna, interpretada com a costumeira intensidade por Jamie Lee Curtis, reaparece como uma sombra. Ela não precisa estar em cena o tempo todo para influenciar tudo o que acontece. O trauma geracional ainda guia muita coisa, ainda intoxica relações. Mas o que muda agora é a consciência disso. Pela primeira vez, os personagens parecem ver a ferida — e não apenas sangrar por ela.

Mesmo nas pausas, O Urso encontra sabor. A trilha sonora continua sendo um personagem à parte: melancólica, suja, vibrante. E o humor, que aparece de forma sutil, nunca deixa que a densidade engula a leveza. Fak, por exemplo, continua sendo o alívio cômico que não compromete o tom — só adiciona textura.

O restaurante, por fim, já foi refúgio, prisão, sonho, pesadelo. Agora é também lugar de transição. Um ponto de passagem. Uma casa que está sendo deixada — ou reinventada.O final da temporada pode parecer anticlimático — e não é difícil encontrar gente nas redes dizendo que esperava mais. Mas talvez esse seja o ponto. O Urso está, finalmente, deixando a cozinha. E Carmy também. Não é um abandono. É um recomeço. E saber que a quinta temporada já foi confirmada é como uma sobremesa depois de um prato denso: vem algo novo por aí. E estamos prontos pra provar.

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