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    Crítica | O Voo do Anjo

    Drama brasileiro se divide entre o piegas e o sincero, chegando a emocionar o público que aprecia dramas inspiradores

    Imagem: California Filmes/Reprodução
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    Em O Voo do Anjo, vida do professor aposentado Vítor Almeida Falcão estava dentro da normalidade até o dia em que abriu a porta para o surpreendente Arthur, vítima de um terrível trauma familiar. Esse encontro inusitado inspira uma mudança de perspectiva para ambos, que buscam um novo significado para a vida.

    Era teoricamente fácil comover uma grande massa apreciadora de produções do gênero drama com narrativas que abordam temáticas como depressão, suicídio e o luto. Com a frequente e infeliz banalização de temas tão relevantes, algumas produções não conseguem atingir uma naturalidade ao tentar passar a sensibilidade dessas questões, tornando-se reféns de clichês que comprometem o projeto e até mesmo do desinteresse do público, que já sabe que irá se deparar com uma produção mais do mesmo. O Voo do Anjo é um longa que estabelece um equilíbrio curioso e um tanto arriscado entre o trivial e o verdadeiramente sensível, obtendo, por outro lado, mais falhas do que êxitos.

    Escrito e dirigido por Alberto Araújo, a improvável história de amizade entre dois homens cujas vidas se cruzam em um momento conturbado tem boas intenções, sendo perceptível a vontade de seu realizar de passar mensagens de pudessem inspirar o público a praticar recomeços e acreditar em novas chances. Entretanto, a solução encontrada para desenrolar uma trama que aborda suicídio, depressão, solidão e inúmeras condições que necessitam de um certo esmero ao serem retratadas em tela, foi compactar tudo em uma trama curta, de aproximadamente 1 hora e 30 minutos, onde todos os conflitos são apresentados rapidamente, desencadeando sua história de companheirismo e busca por uma nova pespectiva de vida.

    Imagem: California Filmes/Reprodução

    Por ser mais direto e evitar rodeios, O Voo do Anjo sabe para quê veio e o que quer passar, faltando-lhe, porém, a técnica sobre como reproduzir suas mensagens e é daí que vez o apelo para o piegas, regredindo em partes o potencial que o filme poderia ter. Felizmente, o filme está longe de adotar uma artificialidade quanto às suas ideias, também sendo parcialmente sutil na direção de fotografia, que escolhe tons brancos e azulados para retratar uma paz interior que a produção pretende passar, e em outros recursos, como trilha sonora.

    Consagrado como uma das maiores lendas vidas do cinema e teledramaturgia brasileira, Othon Bastos, de 91 anos, carrega uma admirável longevidade e entusiasmo em projetos que vêm recentemente trabalhado, mesmo sendo estes poucos dotados de inventividade ou qualidade técnica e narrativa, como Nosso Lar 2: Os Mensageiros e esse mais recente projeto, O Voo do Anjo, o qual me força a bater na tecla de um bonito potencial que fora desperdiçado pelo apego ao simplório e ao clichê. Bastos, juntamente com seu parceiro de cena Emílio Orciollo Netto, quase não dependem da condução de Alberto Araujo e assumem devidamente seus papéis com uma surpreendente naturalidade e carisma, mesmo tendo que seguir a um roteiro de diálogos batidos e repletos de frases de efeito. Por outro lado, a escrita sabe desenvolver bem seus personagens: enquanto Vitor (Bastos) é um professor de física aposentado e viúvo que se sente sozinho na maior parte do tempo, Arthur (Orciollo Neto) é um ex-professor universitário de sociologia e agora entregador que está deprimido após tragédia familiar. Interessante a ideia de um professor completar a existência de outro por meio de simples relações humanas e empatia, o que torna o longa-metragem, apesar de ser falho em sua narrativa, uma generosa fonte de emoções para o público que aprecia dramas sinceros.

    Dividido entre trivialidades e mometos onde realmente a produção deseja passar uma mensagem bonita, O Voo do Anjo pode não agradar quem já está saturado com dramas “mais do mesmo”, mesmo que, no final, o filme prove que até poderia ser mais do que se é idealizado.

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