dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Obi-Wan Kenobi

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Após o sucesso estrondoso de Mandalorian, Disney e Lucasfilm se sentiram à vontade para expandir os horizontes no âmbito do streaming e anunciaram uma série de projetos derivados da franquia principal de Star Wars no formato de séries e minisséries limitadas, incluindo um projeto envolvendo o retorno de Ewan McGregor no papel de Obi-Wan Kenobi após uma série de especulações sobre seu retorno para um possível filme derivado alinhado com os planos iniciais da Disney para o universo idealizado por George Lucas de seguir com produções cinematográficas intercaladas entre episódios da série principal da franquia e derivados que iriam expandir o universo de Star Wars para o grande público. Destes planos saíram produções boas e ruins, mas o que marcou para sempre negativamente a franquia e essa fase sob a tutela da Disney foi a falta de confiança em seguir com um planejamento coeso a partir do momento em que a opinião pública sobre o que é produzido não é praticamente unânime, exemplificado pelo caso dos episódios VIII e IX da franquia que servem como tese e antítese um do outro da pior maneira possível. O refresco para a franquia que foi a realização de Mandalorian removeu parte da desconfiança que existia em relação à franquia após confiar em realizadores que já haviam se provado encaixar muito bem neste universo mas logo em seguida em sua primeira tentativa de expandir essa investida no streaming já veio um outro balde de água fria com o Livro de Boba Fett e agora, infelizmente, Obi-Wan Kenobi se une a esse grupo de produções que ecoam uma falta de interesse em manter a franquia em alto nível, o que parece estar sendo o padrão seguido por estas produções de ritmo quase industrial dentro da empresa. 

A série parte da premissa de encaixar uma última missão do mestre jedi no intervalo de tempo entre os episódios III e IV da série principal. A justificativa para essa jornada de Obi-Wan no papel funciona perfeitamente: Leia, ainda criança, é sequestrada em uma trama da inquisidora imperial Reva (também conhecida como Terceira Irmã) para capturar Kenobi. As motivações de Obi-Wan são muito claras, ele se sente culpado pela queda de Anakin para o lado sombrio e vê na proteção de seus filhos a única forma de redenção que lhe resta. Ewan McGregor entrega bem tudo que o personagem demanda, todo o amargor, toda a insegurança e uma melancolia que permeia sua rotina. A relação entre Kenobi e a jovem Leia (Vivien Lyra Blair) funciona bem e é a força motriz de boa parte do desenvolvimento da trama.

O problema, porém, está em como a trama é desenvolvida. O roteiro se rende a todas as facilitações necessárias para alcançar os pontos da trama que almeja alcançar e a direção evidencia esses facilitadores. Um dos momentos de maior estranheza da série, por exemplo é perseguição de um adulto atrás de uma criança muito menor, é claro que é possível que a criança consiga escapar mas toda a montagem da cena dá a entender o contrário, não existe um esforço na construção da narrativa visual que faça da farsa algo crível. A direção, entretanto, se salva em momentos de combate que são, de fato, empolgantes por finalmente usarem dos elementos principais da franquia e apostar no embate sith/jedi mas que contrastam com momentos de menor interesse da trama que tratam do embate físico como algo quase insignificante para o desenvolver da história, servindo apenas como uma passagem que não precisa de polimento ou inventividade. Os pontos altos apenas acentuam essa inconsistência da série.

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Tudo funciona se tratando do confronto emocional de Obi-Wan e Vader, o embate entre os dois chega a ser tocante em certa medida, mas este arco por vezes se faz secundário para dar lugar ao de Reva e seu ressentimento com a ordem Jedi. É um arco que possuía muito potencial ao aproveitar de um lado jamais tratado pelas produções principais da franquia a partir dos ocorridos durante a queda da república mas que no fim foi desenvolvido com uma antipatia gigantesca, o que contribuiu ainda mais para o oscilar no ritmo da série. As ações da personagem passam do ponto do compreensível e partem para um desenvolvimento que mal se sustenta em pé.

No fim, Obi-Wan Kenobi transita entre altos e baixos evidenciando uma falta de cuidado e carinho com a franquia que não deixou sair impune nem o seu maior símbolo que é a figura de Darth Vader. Após anos de interesse e especulação por parte do público, o desejado retorno de Kenobi pode agradar àqueles que estão apenas interessados em preencher uma lacuna temporal no cânone da franquia mas para quem busca ocupar algumas horas com uma produção marcante talvez essa minissérie não seja o que procura.

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Fabrizio Ferrohttps://estacaonerd.com/
Artista Visual de São Paulo-SP
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