Oito Mulheres e Um Segredo (Ocean’s 8) é uma versão feminista de Onze Homens e Um Segredo (Ocean’s Eleven), é impossível não compará-los já que o de 2018 faz uma homenagem e citações ao de 2001 de forma recorrente.
A cena da audiência de condicional bem como a saída da penitenciária do filme de Oito Mulheres é muito parecida com o de Onze Homens, com Debbie (Sandra Bullock) e Danny Ocean (George Clooney), respectivamente, respondendo, antes de sair da prisão, se terão um bom comportamento e que não cometerão algumas ações como, por exemplo, ficarem próximos a outros criminosos. Enquanto na versão masculina, os homens roubam o cofre de três cassinos em Las Vegas numa noite de luta, o golpe das mulheres é mais ousado: roubar o Toussaint, colar da Cartier avaliado em mais de 150 milhões de dólares, na noite do Met Gala – baile anual oferecido pela Vogue no Metropolitan Museum Of Art de Nova York -, do pescoço da atriz Daphne Kluger (Anne Hathaway).
Debbie Ocean passou mais de cinco anos planejando seu golpe. Curioso é que a personagem é irmã de Danny Ocean e suas motivações são semelhantes as do irmão. A diferença é que a personagem de Sandra Bullock quer vingança simples e franca, enquanto o de George Clooney quer ter a ex-esposa de volta. As mulheres em seus saltos e roupas estilosas conseguem ser, neste e em outros pontos, mais mestres do jogo que os homens. Nele, elas só precisam das figuras masculinas como peças que levam a culpa pelo golpe. Cada personagem representado as poderosas atrizes escolhidas para o filme tem um papel importantíssimo ao longo do longa: Lou (Cate Blanchett) é o braço direito de Debbie, ajudando-a recrutar a equipe e executar o plano com maestria; Rose Wei (Helena Bonham Carter), estilista falida e baranga convencerá Daphne a contratá-la para fazer seu vestido e usar o Toussaint no Met Gala; Amita (Mindy Kaling), especialista em análise de diamantes; Nine Ball (Rihanna), que hackeia os sistemas da Cartier e do MET; Constance (Awkwafina), que furta qualquer coisa facilmente sem que o dono perceba e Tammy (Sarah Paulson), que cria a estratégia de como o roubo será executado e contrabandeia todos os equipamentos que serão necessários.
As jóias criadas pela Cartier e figurinos com peças de grifes como Prada, Viviane Westwood e Stella McCartney dão poder estético à composição das personagens, que executam seu plano de forma majestosa, com uma ótima trilha sonora sob direção de Daniel Pemberton, que acompanhava a montagem rápida de Juliette Welfling.
O roteiro (Garry Ross e Olivia Milch) segue a mesma receita de outras comédias de heist, sem se aprofundar muito nas personagens, porém com protagonistas femininas vivenciadas por intérpretes fortes. Em época de empoderamento das mulheres por movimentos como o Time’s UP – tendo como uma de seus membros a atriz Cate Blanchett – ter um projeto cinematográfico com tantas mulheres fortes, participando ativamente da produção e voltado para esse público, é maravilhoso de ser ver! Como a personagem de Bullock encerra “em algum lugar, há uma garotinha que sonha em ser criminosa”, uma mulher pode fazer e ser tudo o que desejar, ainda que em um mundo ainda dominado por homens.
Curiosidade
Jacques Cartier desenhou a jóia para o Marajá de Nawanagare, membro da realeza indiana, em 1931. Seu nome é uma homenagem à Jeanne Toussaint, que era Diretora Criativa da Cartier na década de 1930. Entretanto, a peça não existe mais e, através dos desenhos do projeto, foi feita uma réplica para ser utilizada no filme.