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    Crítica | Olhar Indiscreto

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    Voyeur é o substantivo masculino de origem francesa que descreve uma pessoa que obtém prazer ao observar atos sexuais ou práticas íntimas de outros. Já a produção Olhar Indiscreto, novo suspense nacional da Netflix, usa essa proposta para mostrar o olhar feminino em torno de um mistério que está mergulhado em assassinatos, dramas familiares e elementos pra lá de picantes e ousados do universo BDSM.

    Em Olhar Indiscreto, Miranda uma hacker talentosa e voyer incontrolável passa seus dias observando o cotidiano de Cléo, sua vizinha. Um dia, Cléo pede a Miranda um simples favor: cuidar de seu cachorro enquanto passa uns dias fora em viagem. A partir desse momento, a vida da hacker vira de cabeça para baixo ao adentrar o universo complexo e obscuro da vizinha. Mas ao mesmo tempo que teme esse novo e perigoso mundo, Miranda se permite viver seus mais íntimos desejos e começa um intenso triângulo amoroso. Enquanto questiona suas novas escolhas, a hacker se vê cada vez mais envolvida com o universo de Cléo enquanto revive seu passado.

    A produção nacional possui uma proposta ousada e uma temática que poderia facilmente cair nos clichês de tramas que querem apenas explorar cenas de sexo em prol da banalização. Mas para nossa alegria, a direção do trio formado por Luciana Oliveira (O Sétimo Guardião), Fabrizia Pinto (Ziraldo – Era uma Vez um Menino) e de Letícia Veiga (Na Corda Bamba), com o roteiro de Camila Raffanti (Pronto, Falei) permite abordar o complexo jogo de gato e rato sem perder a ternura do olhar feminino. A produção assim consegue criar uma intricada teia de mentiras, na qual os personagens estão inseridos junto com seus dramas, dores e motivações.

    A direção inicialmente, consegue criar uma intensa tensão sexual entre os mais diferentes personagens da história, que com o tempo se torna uma tensão sobre as diferentes desventuras que a protagonista precisa enfrentar. Essas situações são abordadas e desenvolvidas de modo convincente e bastante natural. O roteiro de Raffanti consegue assim, elaborar um suspense sexy (sem ser vulgar) e repleto de conteúdo que deixará o espectador na ponta da cadeira a todo momento nessa trama, que é dividida em duas linhas temporais.

    A trama não é perfeita e contém algumas falhas. A primeira delas é que alguns mistérios são resolvidos de modo muito ágil, sem firula, enquanto que outros (que não são tão interessantes) são estendidos ao máximo. Com isso a trama nunca permite que ocorra um respiro para o espectador e quando permite, não é por uma boa razão. Além disso, é perceptível diversas facilitações narrativas feitas em prol do andamento da trama, que não incomodam, mas são bem evidentes e podem atrapalhar a imersão de quem notar. Questões como a segurança de certos locais e mortes em locais onde toda uma família mora poderiam gerar determinadas situações que são ignoradas em prol de facilitar o andamento da história.

    A construção dos personagens é feita de modo interessante e ajuda ao espectador a entender quem é quem na história. A personagem de Débora Nascimento (O Incrível Hulk) é uma jovem que deseja colocar um tempero na sua vida pacata e repleta de problemas familiares. Com isso a personagem de Emanuelle Araújo (Samantha!) serve como uma válvula de escape de sua rotina entediante. A primeira cena da série mostra que é impossível não querer espiar alguém, em especial quando esse alguém quer ser visto (a vizinha faz live sobre sua intimidade e possui janelas enormes que ficam 24 horas abertas para quem quiser ver). Tanto Nascimento como Araújo estão ÓTIMAS em cena e na construção de suas personagens! Além delas merecem destaque Gabriela Moreyra (O Rico e Lázaro) e Nikolas Antunes (Loop) assim como o restante do elenco que não possui tanto tempo em tela, mas quando possui dá conta do recado. O ponto fora da curva no elenco é o ator Ângelo Rodrigues (Golpe de Sorte) que compõem um personagem sério e misterioso, mas que acaba parecendo mais um robô de tão engessado.

    As cenas de sexo são ousadas, bem filmadas e coreografadas. Nenhuma dessas situações é inserida na história de modo gratuito, todas as cenas tem uma função narrativa que justifica a classificação indicativa e principalmente presenteia o espectador com um conteúdo instigante que fará inveja a produções desse nicho.

    Olhar Indiscreto é o primo nacional, e rico em conteúdo, de produções como 365 Dias e 50 Tons de Cinza. A produção vai de zero a cem, de modo muito rápido e mesmo assim consegue ser marcante e coerente. A produção nacional é um lembrete que tanto na arte, como no sexo, intensidade mesclada com um bom mistério tornam a experiência de todos muito mais prazerosa.

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