seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Os Estranhos: Capítulo 1

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Uma das características mais marcantes de Os Estranhos (2008), de Bryan Bertino, é sua abordagem inovadora ao subgênero de invasão domiciliar, explorando habilmente as possibilidades visuais do horror. Em vez de recorrer a uma sequência rápida de cortes para gerar tensão, Bertino utiliza a profundidade de campo e a escuridão para sugerir a presença do invasor, criando suspense de maneira sutil e eficaz.

Embora Bertino ocasionalmente recorra a jumpscares vazios acompanhados de uma trilha sonora estridente, ele geralmente mantém um formalismo bem executado, atendendo às expectativas do gênero sem se render completamente aos clichês típicos. Os Estranhos, então, se destaca por explorar a falta de informação sobre os personagens, criando uma narrativa interessante que manipula a empatia do espectador através do medo e do desejo de sobrevivência.

Quando Renny Harlin, diretor deste reboot, estabelece no subtítulo que o filme faz parte de uma trilogia (os capítulos 2 e 3 serão lançados com pouco intervalo, pois já estão gravados), cria-se a expectativa de que ele, ao se inspirar na obra original, consiga expandir o universo peculiar desses crimes violentos que ocorrem nos Estados Unidos. Além disso, espera-se que o diretor tenha consciência de que o horror contemporâneo está saturado de filmes que são meras cópias tanto narrativa quanto esteticamente. Portanto, é se aguarda, sempre que um novo filme chega aos cinemas (principalmente quando parte de uma releitura) que ele traga inovação e frescor ao gênero, explorando novas maneiras de provocar medo e suspense, sem se apoiar excessivamente em fórmulas desgastadas. 

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Os Estranhos: Capítulo 1 começa com a viagem de aniversário de namoro de Maya (Madelaine Petsch) e Ryan (Froy Gutierrez). Ao passarem pela pequena cidade de Venus, no Oregon, com apenas 428 habitantes, o carro quebra, forçando-os a passar a noite em uma casa isolada na floresta. É então que três estranhos mascarados aparecem, trazendo terror à noite do casal. Embora a premissa seja muito semelhante à do filme original de 2008, Harlin não possui a mesma habilidade de Bertino em criar uma atmosfera de suspense e medo.

Para ilustrar, tomo como exemplo uma das cenas mais marcantes do filme: o primeiro contato dos protagonistas com uma das invasoras de sua casa, que está em busca de “Tamara”. Enquanto Bertino utiliza a escuridão para cobrir o rosto da personagem sem qualquer explicação aparente, simplesmente para aumentar o suspense e o mistério, Harlin adota uma abordagem diferente. Em sua versão, Ryan acende uma luz quando a intrusa vai embora, como se as escolhas estéticas precisassem ser justificadas de forma explícita. Essa diferença de abordagem destaca a habilidade de Bertino em criar uma atmosfera de terror através do inexplicável e do implícito, enquanto Harlin parece depender de explicações visuais mais diretas.

Dessa forma, fica evidente que o projeto não consegue replicar a competência do original em termos de linguagem cinematográfica. As decisões tomadas resultam em um filme cuja esterilidade decorre do excesso de exposição e da subestimação da inteligência do público. Enquanto Bertino confia na sugestão e no terror do desconhecido — algo refletido no contexto político dos EUA em 2008 — Harlin parece acreditar que cada movimento precisa ser explicado e justificado. Essa abordagem dilui a tensão e reduz o impacto das cenas, comprometendo a capacidade do filme de envolver o espectador de maneira eficaz.

Contudo, mais do que uma abordagem simplista na questão visual, o filme falha narrativamente ao não diferenciar ou desenvolver melhor seus personagens. Em vez disso, opta por reproduzir de forma pouco inventiva o que o longa de 2008 já havia feito, acreditando erroneamente que modificar a ordem de alguns acontecimentos constitui uma abordagem original. Ao não explorar de forma mais complexa o universo do filme, a produção acaba por não empolgar e falha em estabelecer um ganho criativo para sua continuação. O resultado é um filme que tenta repetir a fórmula de Bertino, apenas mudando o cenário, sem oferecer novidades significativas ou um desenvolvimento melhor trabalhado.

Os Estranhos: Capítulo 1 é mais um exemplo da falta de inovação narrativa e visual que permeia o horror contemporâneo. Em vez de explorar e expandir a mitologia existente ou de estabelecer uma atmosfera de tensão de maneira visualmente distinta, diretores como Harlin preferem seguir caminhos já trilhados, na crença equivocada de que a familiaridade garantirá o sucesso. Essa abordagem repetitiva, volto a repetir, limita um gênero que consegue ser mais que um projeto bem finalizado e pouco criativo.

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