ter, 12 novembro 2024

Crítica | Os Fantasmas Se Divertem

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Na expectativa da sequência que será lançada em setembro e com um grande elenco, é sempre bom rever um clássico como ‘Os Fantasmas Se Divertem’. Tim Burton produziu diversos curtas-metragens desde a década de 70, mas foi apenas em 1985 que conseguiu produzir seu primeiro longa-metragem com ‘As Grandes Aventuras de Pee-wee’, produzido pela Warner e com um orçamento bem interessante para um primeiro longa ($7 milhões de dólares) e conseguiu um resultado de bilheteria extremamente positivo ($40 milhões de dólares apenas na América do Norte). Neste contexto, Burton conseguiu vários projetos com a Warner, inclusive começando a escrever o roteiro de ‘Batman’, que seria lançado em 1989. A Warner tinha oferecido alguns projetos para Burton, mas nenhum chamou seu interesse, até que Larry Wilson e Michael McDowell, conhecidos de longa data de Burton, escreveram a primeira versão do roteiro de ‘Beetlejuice’. Larry e Michael haviam feito parceria com Michael Bender, empresário, para ajudar com a produção do filme. Burton conheceu o trabalho deles e ficou interessado. O roteiro chegou a ser lido e totalmente negado por um “proeminente produtor da Universal”, como conta Larry, que na época trabalhava na produtora. Após a reescrita de Warren Skaaren, um orçamento de $15 milhões de dólares e com a direção de Burton, finalmente ‘Os Fantasmas Se Divertem’ viria para as telonas em 1988.

Após um acidente de carro que tirou suas vidas, Adam (interpretado por Alec Baldwin) e Barbara (interpretada por Geena Davis) começam a viver na vida após a morte como fantasmas em sua antiga casa. Com a chegada de uma nova família na casa, o casal tenta os assustar mas sem sucesso, tendo que recorrer a Betelgeuse (interpretado por Michael Keaton), famoso fantasma caótico.

É interessante lembrar os trabalhos de Tim Burton do começo de sua carreira, os curtas-metragens das décadas de 70 e 80. Alguns elementos como a animação stop-Motion, maquiagens estilizadas e histórias de terror diferentes das tradicionais da época, como, por exemplo, os Slashers. Tudo isto alinhado ao, memorável, estilo do Tim Burton em uma única produção, criou uma obra que é lembrada até hoje nesse momento histórico do cinema enquanto estabelecimento do cinema contemporâneo, especialmente no caso do terror como gênero e novas possibilidades. O primeiro ato em especial possui muitos momentos típicos do cinema clássico, como se tudo fosse perfeito para os Maitland. Quase sendo uma homenagem ao filme clássico que inspirou a história do filme, ‘A Dupla de Outro Mundo’ (1937). Os elementos do filme como a trilha sonora e as próprias ações dos personagens parecem que são de um filme dos anos 30. A trilha alegre, o casal super contente e apaixonado, a Barbara puxando a cortina da porta de entrada e a trilha para, algumas atitudes que mostram como o filme estava consciente desse tom clássico, e que vai ficar mais claro no decorrer da obra.

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Créditos: Warner Bros. Pictures

Naquele momento histórico do cinema, como citei, existiam muitas franquias de Slashers que estavam em alta e tendo diversas continuações como ‘Sexta-feira 13’, ‘Halloween’, ‘Hora do Pesadelo’, dentre outras. Esses filmes em especial, mas o gênero como um todo, possuía uma dinâmica excessiva de mortes em tela. Aquele verdadeiro banho de sangue que vemos ser feito por personagens como Michael Myers ou Jason Voorhees e essa busca incansável pela sobrevivência. E então surge a obra de Burton e uma história que trata justamente do oposto, sobre a vida após a morte e como viver nela. E, claro, a mistura de gêneros com o tom cômico que fez este projeto ficar na memória de muitos. O tom gótico de Burton, principalmente após a morte de Adam e Barbara, é um enorme processo bem executado pelas áreas da direção de arte e fotografia que refletem bem neste mundo sombrio e bizarro do filme.

Elementos como o próprio “Manual para Recém-Falecidos” e os cenários do “serviço público” dos mortos refletem bem essa mistura dos gêneros e uma visão daquele mundo por parte do diretor de refletir questões mais profundas, mesmo que no meio das risadas. Um eixo muito importante nesta parte é a Lydia (interpretada por Winona Ryder) que é uma humana viva, mas se veste da cor dos mortos, com roupas escuras. O mundo dos vivos é sempre tratado de forma clara, com muito branco nas situações, menos Lydia que sempre se mostrou do outro lado. Não à toa, mais tarde, é mostrado como Lydia tratava com suas emoções, especialmente sua tristeza e isolamento do restante. Ainda temos Betelgeuse nessa questão. Ora, o que seria Betelgeuse se não aquela típica voz dentro da sua cabeça que só te coloca pra baixo? Te levando para lugares (a partir da imaginação) que você nunca iria se estivesse verdadeiramente bem consigo mesmo? Burton ainda expande essas discussões para outros meios, como o retrato do consumismo em Charles (interpretado por Jeffrey Jones) e Delia (Catherine O’Hara) e suas reuniões com Otho (interpretado por Glenn Shadix) pensando em usar os fantasmas justamente como negócios, em atrações, sendo uma crítica a sociedade estadunidense como um todo (e não só ela). O único problema desse projeto é que, na conclusão, Burton parece ignorar tudo o que construiu durante todo o filme, criando mais um final bizarro mas que não rima de forma alguma com o restante da rodagem, por mostrar justamente o contrário do que aquela narrativa estava fazendo.

Mesmo assim, ‘Os Fantasmas Se Divertem’ virou uma memória querida nos fãs do diretor e em quem gosta desse tipo de humor. Quase quatro décadas depois, o filme continua sendo uma referência em seus assuntos e uma parte muito especial da filmografia de Burton. Algo tão comprovado que haverá a sequência em setembro deste ano, que promete principalmente pelos novos recursos tecnológicos que Burton não possuía em 1988.

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