Paraíso em Chamas é um filme que observa mais do que explica. Mika Gustafson constrói a narrativa com uma câmera que parece farejar o ambiente, se movendo entre arbustos, piscinas e ruas suburbanas, captando fragmentos da vida de três irmãs que vivem sozinhas enquanto esperam uma visita do serviço social. Não há pressa em resolver nada, e isso funciona a favor da história. O roteiro não tenta justificar o abandono, nem dramatizar excessivamente a ausência dos pais. Ele apenas mostra como essas meninas lidam com o que têm: liberdade, improviso e uma certa urgência em crescer.
O filme se passa num verão sueco. As personagens vivem como se cada dia fosse o último antes de uma mudança inevitável. Elas invadem condomínios, fazem festas, cometem pequenos delitos, e criam rituais próprios para marcar a passagem do tempo. A infância e a adolescência se misturam, e o longa consegue capturar esse momento em que o corpo começa a mudar, mas a mente ainda está presa a brincadeiras e fantasias.
A relação entre Laura, a irmã mais velha, e Hannah, uma mulher que ela tenta convencer a se passar por sua mãe, é o ponto mais delicado da história. As duas se aproximam por motivos diferentes, e essa troca silenciosa entre elas revela muito sobre o que cada uma perdeu. Não há grandes diálogos explicativos, nem cenas que tentam forçar emoção.
O trabalho das atrizes, todas estreantes, é direto e sem afetação. Elas não parecem estar atuando, e isso contribui para a naturalidade do filme. A fotografia de Sine Vadstrup Brooker também merece destaque — ela consegue equilibrar o urbano e o rural, criando uma atmosfera que nunca é totalmente segura nem totalmente hostil.
Em resumo, Paraíso em Chamas não se preocupa em fechar todas as pontas. Ele prefere deixar o espectador acompanhando os passos das personagens, como se estivesse ali, ao lado delas, tentando entender o que vem depois. É um filme que observa a juventude sem tentar moldá-la.