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    Crítica | Past Lives

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    “E se…?” essa é a pergunta central em torno da qual a narrativa de Past Lives se desenvolve, mais especificamente, acompanhamos a trajetória de Na Young que, ainda criança, se muda da Coreia para o Canadá, onde assume a identidade de Nora, deixando para trás seu paquerinha de infância. Passados doze anos, os dois, agora adultos, se reencontram através das redes sociais, ela está em Nova York, enquanto ele permaneceu em seu país de origem. Por conta da distância, eles perdem o contato mais uma vez, mas se reencontram novamente doze anos depois. E a pergunta ecoa, “e se Nora nunca tivesse ido embora?” “e se eles tivessem ficado juntos da primeira vez que se reconectaram?” “E se tudo isso tivesse acontecido, eles ainda seriam as pessoas que são? Provavelmente não! Eles gostariam um do outro mesmo assim? Gostariam de si próprios?”, enfim, e se…?

    O filme não tem a pretensão de responder essas perguntas, mas tão somente levantá-las, ao contrário de outros grandes filmes como “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” ou “Aranhaverso”, nos quais podemos ter uma noção de como seria a vida de seus protagonistas caso tivessem tomado rumos e decisões diferentes em suas jornadas, aqui a proposta é outra: imaginar junto com os personagens tudo que poderia ter sido, mas não foi, assim como fazemos com a nossa própria vida o tempo todo. Um exercício doloroso demais, porque existe a tendência de romantizamos as possibilidades daquilo que não aconteceu.

    Ao mesmo passo, há que se levar em conta o que de fato aconteceu, Nora cresceu, se tornou uma mulher confiante, em certo momento ela admite que não chora a todo tempo igual fazia quando era criança, ela tem uma carreira promissora nas artes, assim como seus pais, parece ter realizado vários sonhos profissionais e pessoais, tem objetivos grandiosos, está cercada por pessoas que gostam dela… Nada indica que tenha se tornado uma mulher amargurada, rancorosa, cheia de culpa pelo passado ou frustração pelo futuro que poderia ter tido.       

    Nesse sentido, o filme tem uma concepção existencialista, mas não necessariamente pessimista. Afinal, não há como ter certeza se Nora e Hae Sung teriam funcionado na vida real, fora do relacionamento platônico que idealizaram, mas ainda assim é possível sentir a dor por eles nunca terem tido sequer a chance de tentar, por razões que ultrapassavam suas vontades.

    Por doze anos, a visão que os personagens guardaram um do outro é distorcida pela inocência da infância preservada na memória e, justamente por isso, o sentimento parece tão perfeito, não há magoas, nem desapontamentos, só existe espaço para a pureza do amor. E acompanhar o desenrolar de algo tão genuíno entre duas pessoas diante dos nossos olhos é como ler poesia, uma mistura indissociável de beleza e da dor, dói porque é belo e é belo porque dói.

    Apesar de ser seu longa de estreia, a diretora (e roteirista) Celine Song já demonstra bastante domínio das técnicas de cinema e utiliza-as em prol da narrativa e não como meros acessórios, por exemplo, a trilha sonora é delicada, mas sentimental, já a fotografia, vai muito além dos shots bonitos, alternando entre o frio melancólico do azul e o quente acolhedor do dourado. Uma experiência sensorial que nos coloca dentro do filme, fazendo com que sintamos as emoções na pele, mesmo com poucos – e por vezes nenhum – diálogos.

    Para dar vida a seu projeto, Celine ainda contou com a ajuda de um elenco que não poderia ter feito um trabalho melhor, Greta Lee (Russian Doll) e Teo Yoo (Decision to Leave) são capazes de transmitir apenas com olhares e sorrisos o turbilhão de sentimentos que seus personagens vivenciam, sem nunca apelar para o exagero melodramático – que funciona bem em outros filmes, mas aqui não seria bem-vindo. A linguagem corporal dos dois também é magistral, por vezes, a ausência de um toque ou um movimento relutante comunica exatamente aquilo que precisamos saber.

    A intenção não é ser uma obra de proporções grandiosas, pelo contrário, o convite feito para o público é o de acompanhar por quase duas horas uma jornada intimista sobre o amor. É precisamente essa escala reduzida que dá peso e força para a história contada.    

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