dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Pequenas Cartas Obscenas

Publicidade

Conhecida mundialmente pelo romance ‘Como Eu Era Antes de Você’, a diretora Thea Sharrock está de volta oito anos depois para mais um filme nas telonas. A diretora até se envolveu em projetos como ‘O Grande Ivan’ (2020), que apesar do elenco recheado de estrelas, acabou ficando bem esquecido, principalmente por ter sido lançado direto no Disney+ por causa da pandemia. Mas, agora sim, Sharrock está de volta às grandes telas!

A história se passa em 1920, em um Império Britânico logo após “A Grande Guerra”, Edith Swan (interpretada por Olivia Colman) recebe cartas ameaçadoras há tempos. Após a 19ª carta, ela e seu pai decidem tomar uma atitude chamando a polícia. A principal suspeita é Rose Golding (interpretada por Jessie Buckley), vizinha que é vista por todos com maus olhos.

Existem muitas maneiras de criar empatia com o público na sua arte. Pode ser simplicidade, fatores regionais de onde o filme se passa com a história de vida da pessoa, fatores psicológicos… e existe a “forma bruta”. Apesar de ser direta, requer muita esperteza tanto por parte do diretor como do(a) ator ou atriz que interpretará aquele(a) personagem.  Então, quando começa a rodagem de ‘Pequenas Cartas Obscenas” e somos introduzidos ao Império Britânico, alguns anos depois da “Grande Guerra” (como era chamada, na época, a Primeira Guerra Mundial) e nos deparamos com uma personagem como Rose Gooding, causará um efeito imediato no público. Não apenas pelo desenvolvimento da diretora, mas pela grande atuação de Jessie Buckley, já há um enorme impacto em tela.

Publicidade
Créditos: Sony/Stage 6

Este impacto inicial já atrai a atenção, e esta sempre estará focada em Rose quando aparecer em cena. Mais uma vez na carreira, Olivia Colman se encontra com Buckley em uma tela grande. Além de todas as maiores vantagens, neste caso em específico, a maior qualidade de ambas é saber se comportar dentro de vários gêneros em uma só obra. O grande mérito da obra de Sharrock é essa mistura bem feita entre diferentes elementos. A comédia, o suspense, o drama, algo elementar do cinema contemporâneo mas que poucos diretores conseguem executar a fim de gerar um filme excelente.

Ao mesmo tempo que ocorre o desenvolvimento dessa estrutura, a diretora vai acrescentando discussões dentro da narrativa acerca daquela sociedade. Um Império Britânico que tinha saído da Grande Guerra há apenas três anos, isso é deixado claro no filme em diálogos, como no marido de Rose que teria morrido em combate. Neste contexto, o filme não se contenta e ainda acrescenta mais pesos e discussões, como a introdução da policial Glady Moss (interpretada por Anjana Vasan) na história, o funcionamento da polícia da época a partir de hierarquias e o comportamento machista daquela sociedade. Em certo momento, quando Moss conversa com Rose, Moss explica que ela é “policial feminina Moss”. Rose retruca com “dá pra ver que você é uma mulher!”, e essa discussão vai acompanhar até o final. Da mesma forma, a vida em que Edith vive com seu pai, um cristão extremamente conservador e que chega a forçar sua filha a escrever um provérbio por 200 vezes.

Esse segmento é personalizado nas personagens de Colman e Buckley, que com grandes atuações conseguem ir transitando entre os gêneros mas sem esgotar o filme. As circunstâncias da vida de cada uma, apesar de morarem lado a lado, são bem representadas pelo figurino, cenários e, claro, o linguajar de ambas. Enquanto Edith se veste sempre de forma mais cordial, em uma casa sempre bem arrumada e um jeito de falar mais formal, Rose fala muitos palavrões, usa roupas bem soltas e pouca maquiagem e a casa sempre com alguma sujeira em tela. Dentro desse elemento, e acho importante citar, há um discurso vindo principalmente de Edith e seu pai, Edward (interpretado por Timothy Spall), sobre o comportamento de Rose estar associado com o fato dela ter vindo da Irlanda, mostrando um discurso preconceituoso com imigrantes, algo tão atual como nunca e que foi pauta nas eleições recentes no próprio Reino Unido, mesmo que a história se passe 104 anos atrás. Novamente, a diretora decide criar mais e mais camadas dentro da obra, criando mais um debate daquela época para ser refletido.

Créditos: Sony/Stage 6

No final, assim como a fotografia remete durante todo o filme, todo aquele mundo de Littlehampton é um mundo igualmente sombrio. Não existia santo, ou melhor, não existia um Deus superior aos outros. Todos os discursos acabam caindo por terra, assim como é no tribunal no final do filme. Apesar das diferenças de cada um, os pecados de todos acabam vindo à tona em algum momento.

‘Pequenas Cartas Obscenas’ é um surpreendente filme que utiliza de forma criativa os recursos que a história dá, deixando o público entretido com uma verdadeira mistura de sentimentos e grande suspense para resolver o mistério sobre quem enviava aquelas cartas. O filme acaba sendo uma ótima opção de entretenimento para aqueles que não querem assistir ‘Deadpool & Wolverine’, a grande estreia da semana aqui no Brasil.

Publicidade

Publicidade

Destaque

Crítica | Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa

A Turma da Mônica, criada por Maurício de Sousa...

Crítica | Bagagem de Risco

Em Bagagem de Risco, Ethan Kopek (Taron Egerton), um...

Nosferatu | Diretor agradece Bob Esponja por apresentar personagem aos jovens

Em entrevista à Variety, Robert Eggers, diretor da nova...
Conhecida mundialmente pelo romance ‘Como Eu Era Antes de Você’, a diretora Thea Sharrock está de volta oito anos depois para mais um filme nas telonas. A diretora até se envolveu em projetos como ‘O Grande Ivan’ (2020), que apesar do elenco recheado de...Crítica | Pequenas Cartas Obscenas