sex, 27 dezembro 2024

Crítica | Plano 75

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Ambientado em um Japão distópico, Plano 75 (Plan 75 ) aborda um programa governamental que encoraja cidadãos idosos a serem voluntários de eutanásia como solução para lidar com o envelhecimento populacional. Na história, mulher idosa cujos meios de sobrevivência são insuficientes, um vendedor pragmático do Plano 75 e uma jovem trabalhadora filipina precisam enfrentar escolhas de vida e morte.

O cinema japonês dispõe de uma perspicaz sutileza, autoral e, de certo modo, difícil de ser adaptada para a sétima arte ocidental, ao conversar com o público sobre as mais delicadas temáticas que promovem uma montanha-russa de debates e polêmicas, assim como também utiliza desta mesma exclusividade criativa para nós impactar com afiadas críticas que são exibidas em tela de forma nua, crua e chocante. Em Plano 75 (Plan 75), produção japonesa lançada em 2022 que estreia neste mês nos cinemas brasileiros, nos deparamos com um angustiante retrato de uma terceira idade negligenciada.

Imagem: Sato Company/Reprodução

Chegando com um grande impacto emocional, Plano 75 investe em um roteiro que preza pela tanto pela sensibilidade quanto pela revolta perante a descriminação etária, que vem a ser comum em países cujo a população idosa é maior do que a mais jovem. Na história idealizada e desenvolvida por Chie Hayakawa, um Japão distópico institui, por meio de um programa governamental, o incentivo a eutanásia de idosos a partir dos 75 anos de idade. A medida é imposta como solução para lidar com o envelhecimento cada vez maior da sociedade, porém, ao longo da trama, é revelado gradativamente e de maneira perspicaz pelo roteiro cuidadoso de Hayakawa que falta o mínimo de humanização no processo.

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Essa cautela da escrita e direção, ambas assinadas por Chie Hayakawa, em tratar um assunto de tamanha sensibilidade e extrair dele debates e temas de caráter ficcional que pode ser uma dolorosa verdade oculta, torna Plano 75 um exercício reflexivo a respeito de como a morte sobressai a sobrevivência e vice-versa, em casos extremos. A profundidade dessa temática é soberba, ainda mais quando nos deparamos com os dramas enfrentados por uma das protagonistas, Michi (Chieko Baishô), que espelham problemas reais enfrentados pela população idosa, tanto no Oriente como no Ocidente.

Divido em 3 histórias paralelas, Plano 75 convence em seus respectivos dramas que tem como plano de fundo a iniciativa governamental que intitula a produção. Os três personagens principais são bem desenvolvidos e cada um dispõe de um tempo de tela teoricamente justo, pois era de se esperar que houvesse um destaque, ainda maior do que já é mostrado no longa, na personagem Michi, interpretada de maneira serena e repleta sensibilidade por Chieko Baishô (O Castelo Animado). Seus dramas, como as lutas por se adaptar a um trabalho, ver o círculo de amizade sofrendo por conta da idade e sua adesão ao plano que intitula o filme são bem trabalhados e, provavelmente, sustentariam sozinhos o longa. Por outro lado, as tramas envolvendo o jovem vendedor Hiromu, vivido por Hayato Isomura, e a jovem cuidadora Maria, interpretada por Stefanie Arianne, também são fortes e envolventes.

Ostentando uma estética fria, que prevalecem as cores voltada para uma paleta azul acinzentada e penumbras, Plano 75 também surpreende com planos fechados na direção de fotografia que evidenciam a angústia, tristeza e até desistência. A ausência de trilha sonora também colabora com o ambiente genuíno de melancolia.

Já em cartaz nos cinemas brasileiros, Plano 75 é uma importante reflexão de como a negligência e a indiferença contra uma faixa etária é corrosiva e principal causa de soluções radicais, consideradas tabu para muitos e, para outros, uma forma de livramento.

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