dom, 22 dezembro 2024

Crítica | Pobres Criaturas

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Yorgos Lanthimos (O Lagosta) é um diretor grego que tem em seu currículo obras que abordam, de modo cínico, temas como: jogo de poder e a violência humana. Seu novo filme Pobres Criaturas (que estreia em 01 de fevereiro) aborda esses temas e outros de modo muito mais leve e cordial. Mas não se engane essa produção não é para todos os públicos, apesar que quem der chance não irá se arrepender.

A produção é uma adaptação do livro homônimo escrito por Alasdair Gray, que conta a história da jovem Bella Baxter, que é trazida de volta à vida pelo cientista Dr. Godwin Baxter. Querendo ver mais do mundo ela foge com um advogado e viaja pelos continentes. Livre dos preconceitos de sua época, Bella exige igualdade e libertação.

O filme, inicialmente, é apresentado em preto e branco. O mundo cinza é visto assim por Bella, que convive apenas com seu criador (chamado por ela de “Deus”). A partir do momento em que ela “foge” para conhecer o mundo, somos apresentados a um mundo com um visual surrealista, que mescla organicamente esses elementos, como uma pegada retrô, nostálgica e que se sustenta pela visão que a protagonista tem da humanidade. É quase como se estivéssemos vendo o mundo pelos olhos de uma criança (literalmente) que é a protagonista da trama.

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Acessórios, figurinos e a maquiagem são de tirar o fôlego (e merecem) uma indicação ao Oscar. O design de produção feitos no estilo steampunk deve (e merecem) vencer o Oscar 2024, pois são feitos de modo criativo e com uma perfeição de dar inveja. A fotografia é outro destaque, Lanthimos opta por – em diversos momentos – usar lentes angulares extremas, que causam pequenas distorções na imagem, para mostrar a estranheza daquele universo criado por ele. Além disso, o diretor opta por inserir o espectador na trama usando ângulos que colocam o espectador como alguém que está espiando toda aquela situação (cômica e pra lá de peculiar) de fora. O que no fim, só engrandece tudo que é apresentado pela direção.

O roteiro de Tony McNamara (The Great) adapta a história dividindo a mesma em capítulos e cria uma interessante alegoria sobre autodescoberta. De modo, inicial vemos uma protagonista inocente, que é uma folha em branco, sendo preenchida pelas pessoas que estão no ambiente ao seu redor. Ambiente esse que não é indicado para uma criança e que com o tempo se torna pequeno para a ambição e para a fome de conhecimento que a protagonista possui. Vemos a partir da sua “fuga” sua mente radiante abraçar o que a vida tem a oferecer, aprendendo com seus acertos e erros, vendo o que existe de melhor e pior na humanidade. O texto, ágil e repleto de sacadas inteligentes, esconde algumas verdades inconvenientes que chocam como, por exemplo, a origem da protagonista que antes de “renascer” era mais uma mulher presa nas engrenagens de uma sociedade machista e opressora.

Divulgação

Além disso, o texto de McNamara ainda trata sobre temas delicados como ética na ciência, liberdade de expressão, papel da mulher na sociedade e sexo com bastante leveza e bom humor, algo que pode assustar, em especial, os mais puritanos. O modo como o texto desconstrói esses tabus e apresenta isso ao público é brilhante e simples, pois tudo é tratado com objetividade e sem papas na língua pela personagem de Emma Stone (La La Land), que brilha no papel.

Stone é a dona do filme e sua personagem é o fio narrativo da história, que torna o carnaval de loucuras vistas em Pobres Criaturas um prazeroso passeio. A interpretação da atriz é a melhor de toda sua carreira, aqui vemos uma entrega física, que acontece desde do seu andar desajeitado até as tórridas cenas de sexo, e uma doação em nome da atuação que poucas vezes foi vista no cinema. Por falar nas cenas de sexo, elas e as cenas de violência, não são apresentadas de modo gratuito na história, tendo uma importante função narrativa (que não serão detalhadas aqui, para não atrapalhar a experiência).

Completam os destaques no elenco: Mark Rufallo (Os Vingadores) que surge na trama como um personagem presunçoso, egoísta e mesquinho, mas extremamente carismático e Willem Dafoe (O Farol), que infelizmente ficou fora do Oscar 2024, interpretando um dos vários homens que na história tenta controlar a vida da protagonista, sendo visto como um literal, monstro gentil que quebra as regras em nome de um bem maior.

Pobres Criaturas é um filme divertido! Ousado! Bizarro! Depravado! Mas é principalmente honesto, pelo menos com os desejos e anseios de sua protagonista. Assista o quanto antes e se delicie, sem pudor e limites!

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Hiccaro Rodrigues
Hiccaro Rodrigueshttps://estacaonerd.com
Eu ia falar um monte de coisa aqui sobre mim, mas melhor não pois eu gosto de mistérios. Contato: [email protected]
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