De tempo em tempos, surge na TV ou no cinema alguma produção que resolve mesclar dramas e romances adolescentes com elementos sobrenaturais e de fantasia. Alguns exemplos, emblemáticos, que usam a mitologia por trás do vampiros como plano de fundo em suas tramas são: Buffy, a Caça-Vampiros, Diários de um Vampiro e o amado por uns – e odiado por outros – a Saga Crepúsculo. Para aumentar essa lista estreou na Netflix a série Primeira Morte (First Kill) que conta a história de amor entre Juliette e Calliope, respectivamente uma vampira e uma caçadora de monstros. Elas precisam enfrentar não apenas as dificuldades da adolescência, mas entender seus respectivos lugares no mundo agora que estão apaixonadas e vivem em mundo completamente opostos.
A produção é baseada em um conto da autora Victoria “V. E.” Schwab. O que vemos na série, principalmente no seu primeiro episódio, é uma tentativa desesperada de criar uma história no melhor estilo Romeu e Julieta, onde duas amantes sem sorte e de mundos opostos se apaixonam e precisam lutar contra tudo e todos para viver um grande amor. O problema da produção, não é a ideia, mas a execução que é tão desajeitada e insípida que torna impossível comprar a proposta apresentada. Nada aqui é feito com sutileza ou com cuidado. O roteiro escrito por Schwab, opta por inserir uma narração em off que mais atrapalha do que ajuda o programa. A ideia do roteiro de ter uma voz em off servindo como guia da trama e mostrando os diferentes pontos de vistas é interessante, mas o que vemos é uma narração de TUDO que é visto, uma voz que não deixa o espectador tirar suas próprias conclusões sobre nada do que é apresentado, o que é atrapalha demais a imersão na história. A produção poderia ter apresentado na primeira temporada apenas o ponto de vista de uma das protagonistas, mas optou por dividir os episódios com o ponto de vista das duas, privilegiando mais a narrativa de uma das personagens mais do que a outra, algo que é confuso e não ajuda a história a andar.
Outra falha da série é a estética, na verdade o defeito é a falta dela. Falta tempero na mistura de gêneros, as criaturas apresentadas tem um visual precário, a fotografia é sem vida e as cenas quentes são basicamente mãos bobas passando aqui e ali. Para uma produção que deseja assustar e seduzir, o que é apresentado não engrandece nenhum dos quesitos.
As metáforas criadas na trama para abordar determinados assuntos, não são bem desenvolvidos e questões LGBTQIA+ e familiares são abordadas apenas de modo superficial. A mitologia da série também é confusa. Nada apresentado é envolvente e o ponto alto acaba sendo o elenco que tenta tirar leite de pedra. Quando a trama foca nas amantes desafortunadas, a trama até ganha algum fôlego. As personagens vividas por Sarah Catherine Hook (Invocação do Mal 3) e Imani Lewis (Premature) são o coração da produção e se entregam nos papéis. Quando estão em ação, ambas as atrizes elevam a qualidade da produção de modo que, queremos ver mais delas, saber mais dos seus dramas e dores, mas isso dura pouco e o foco saí delas para apresentar núcleos desinteressantes e com arcos pra lá de mal elaborados.
Primeira Morte é uma série teen que segue a cartilha de dramas adolescentes e que resolveu inserir vampiros, apenas para se diferenciar de tudo que já foi feito. Porém o resultado é precário. A produção, se tiver uma segunda temporada, precisa urgentemente corrigir a sua rota para encontrar o caminho do sucesso e não morrer (ser cancelada) tão cedo.