A figura de Elvis Presley é emblemática para a cultura ocidental no século 20, e se recentemente já fomos contemplados com um recorte audiovisual da vida do cantor na visão de Baz Luhrmann, agora Sofia Copolla trás uma nova perspectiva para Elvis a partir dos olhos de quem viveu ao lado do cantor com Priscilla, em uma espécie de conto de alerta para relações problemáticas.
O filme vai acompanhar toda a trajetória do relacionamento de Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) com Elvis (Jacob Elordi), desde seu primeiro encontro, ainda na Alemanha. Copolla toma seu tempo ao retratar a juventude da protagonista e as circunstâncias que levaram ao encontro dela com Presley e isso já comunica uma intenção de usar do desconforto que a relação de uma adolescente, ainda no começo do ensino médio e um homem adulto, ainda mais em uma posição de tanto poder, pode causar.
Priscilla em um primeiro momento é retratada como uma jovem sem muito a dizer. Seu amor por Elvis parece algo natural mas não a partir de uma construção de confiança entre os dois e sim por uma circunstância. Uma jovem encontra seu ídolo que por acaso está morando na mesma cidade que ela em país estrangeiro, o ídolo por sua vez se sente solitário e com saudades de casa…tudo vai apenas acontecendo e talvez a maior surpresa tenha sido o real apego que Elvis demonstra por essa garota tão jovem e que até então não demonstra forte personalidade.
Sendo uma adaptação de uma autobiografia de Priscilla Presley, é de se imaginar que a história seria generosa com a figura da protagonista e em partes é, mas ao mesmo tempo essa generosidade do recorte escolhido por Sofia Copolla é a da conciliação de Priscilla consigo mesma a partir do reconhecimento de inúmeras situações de desconforto que surgem em sua relação com o cantor. A formação do perfil de Elvis no filme aos olhos do telespectador de hoje já carrega toda uma série de sentidos. É inevitável imaginar os ponteciais problemas que ele poderia ter dentro de um relacionamento já desde a apresentação do cantor no filme, mas uma vez que há um comprometimento com a perspectiva de Priscilla sobre os ocorridos, as situações são retratadas primeiramente com uma beleza vibrante e só depois com uma maior sobriedade.
O discurso que o filme constrói sobre o casamento com Presley é muito pautado pela quebra de expectativa em relação ao cantor uma vez que a relacionamento de ambos avança. Se no começo existe um deslumbramento com a vida em Graceland e com o afastamento de Priscilla de sua família na Alemanha, a cada cena que passa se torna mais clara a problemática de Elvis (sob a perspectiva de Priscilla e Copolla dos fatos, claro).
Sendo assim a melhor forma de definir Priscilla talvez seja na de um alerta glorificado dentro de envelope charmoso. É um filme vistoso, ainda que simples, é ágil, não muito surpreendente e entrega sua ideia principal sem muitas voltas. O trabalho de Sofia Copolla e principalmente de Philippe Le Sourd (na fotografia) não passará despercebido.