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    Crítica | Quando Eu Me Encontrar

    Drama cearense disserta sobre ausência e suas consequências em formas diferentes

    Imagem: Embaúba Filmes
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    Em Quando Eu Me Encontrar, longa-metragem nacional de drama dirigido por Amanda Pontes e Michelline Helena, a partida repentina da jovem Dayane se desenrola na vida daqueles que ela deixou: Sua mãe, Marluce, faz de tudo para não demonstrar o choque que a fuga da filha lhe causou. A irmã mais nova, Mariana, enfrenta alguns problemas na nova escola. Antônio, noivo de Dayane, se vê num vazio diante da partida dela e busca obsessivamente por respostas.

    Neste primeiro desafio em conduzir um longa-metragem original do gênero drama, em meio a um mercado competitivo, mas que felizmente vem abrindo portas para novos e promissores talentos, a dupla de cineastas cearenses Amanda Pontes e Michelline Helena, que já dirigiram os curtas-metragens “Do Que Se Faz de Conta” (2016) e “Oceano” (2018) e o documentário “Topofilia” (2017), se mostram confortáveis e habilidosas em levar para as grandes telas uma história simples, porém distante do simplório, que aborda, entre suas principais temáticas, os efeitos da perda e da ausência, tão corrosivos quanto, ao mesmo tempo, remediadores.

    Imagem: Embaúba Filmes

    Utilizando a fuga da jovem Dayane e seus efeitos na vida daqueles que eram mais próximos dela como catalisador para uma narrativa sensível e repleta de gatilhos emocionais, Quando Eu Me Encontrar surpreende ao desviar de clichês e evitar focar somente nas causas da partida da personagem, dando uma atenção maior aos seus efeitos na vida de Marluce, sua mãe, Mariana, a irmã mais nova, e Antônio, o noivo. Em 3 núcleos bem arquitetados e orquestrados, é mostrada as mais diferentes reações e comportamentos, sendo conduzidos de maneira que a sensibilidade e a naturalidade utilizada com sabedoria conseguem convencer o público de que aquela história é um típico episódio na vida de brasileiros comuns, o que não deixa de ser verdade.

    No núcleo de Marluce, dona da cantina do colégio e de uma tenda de lanches, a atriz Luciana Souza entrega uma personagem trucidada por dentro, que faz de tudo para não deixar aparente sua dor, além de viver uma constante incerteza sobre o que deu errado no seu papel de mãe, desempenhando uma atuação bela e cheia de sentimentos que são ocultados pela personagem. Já no drama enfrentado pela irmã, Mariana, brilhantemente interpretada pela jovem Iasmin Dantas de Souza (Pipa), é possível identificar o acúmulo de sentimentos de perda, dor e fúria, ainda mais quanto ela precisa lidar com a partida de Dayane ao mesmo tempo que precisa se enturmar na nova escola e lidar com um abuso enfrentado pela melhor amiga. Por último, temos o noivo Antônio, obcecado por respostas a ponto de despertar lados questionáveis de sua personalidade e até se arrepender, mostrando que o ator David Santos sabe oscilar bem os momentos de fúria, incerteza e ego fragilizado de seu personagem.

    O roteiro assinado pelas próprias realizadoras do projeto aborda gradativamente a canção que inspira o título e a temática do filme, “Preciso me encontrar”, clássico de Cartola lançado em 1976, uma vez que a necessidade de partir para uma jornada introspectiva de autoconhecimento é um dos possíveis objetivos da personagem Dayane, o que não é deixado em evidência pela narrativa que tem o evidente intuito de não entregar explicações didáticas de bandeja. Apesar da assertiva escolha em focar a trama nas consequências de tal jornada da personagem que origina todo o conflito, é possível sentir uma necessidade de saber mais sobre sua personalidade e o porquê de seus atos, ainda mais quando entra em cena a interessantíssima personagem Cecília, interpretada por Di Ferreira, cantora e amiga de Dayane que entende e concorda com sua fuga, mas não trás detalhes sobre a não ser destacar a liberdade da personagem e a necessidade de desatar os nós que a prendem.

    Imagem: Embaúba Filmes

    A ausência também é sentida no desfecho da obra que, apesar de poético e condizente com a história, parece ter sido pensado às pressas, a fim de entregar um final em aberto que pudesse gerar diversas possibilidades e teorias do público. Porém, é possível perceber a rapidez da narrativa em entregar logo um final, mesmo sem grandes resoluções. A temática central de Quando Eu Me Encontrar reflete diretamente na fotografia do filme, que escolhe planos que transitam entre o fechado e o aberto, sempre colocando em evidência um vazio, além de planos longos e bem dirigidos que intensificam o estudo de personagens.

    Apresentando uma exímia direção e um elenco bem direcionado e inspirado em entregar um trabalho que transmitisse emoções sem se apegar a excessos, Quando Eu Me Encontrar é um drama necessário em que a ausência acaba gerando dissertações louváveis sobre consequências e autoconhecimentos, refletindo também na necessidade humana de se deixar ir e precisar andar.

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