Taika Waititi começou sua carreira no cinema dirigindo curtas-metragens de baixo orçamento e chegou, inclusive, a receber uma indicação ao Oscar com seu filme de estreia, Two Cars, One Night. O diretor continuou a trabalhar em projetos independentes e alguns deles ganharam alguma notoriedade, a exemplo de What We Do in the Shadows, até que foi convidado pela Marvel – ainda em sua fase dourada – para dirigir Thor: Ragnarok, que lhe rendeu elogios. Dois anos depois o diretor recebeu mais duas indicações ao Oscar pelo seu filme Jojo Rabbit, saindo vencedor do prêmio de melhor roteiro adaptado. Taika parecia estar no auge de sua carreira e muitos o viam como uma grande promessa até o fracasso de Thor: Amor e Trovão em 2022, que começou a sinalizar a derrocada do MCU. No ano passado, Waititi retornou às suas raízes com um filme de menor orçamento, sem tanta interferência de estúdio, Next Goal Wins, que estreou no Brasil, nesta quarta-feira (27/03) no Star+, com o título de Quem Fizer Ganha.
Taika construiu uma carreira curiosa alternando entre blockbusters e cinema indie, nem sempre constante e existia uma expectativa de que, ao trabalhar em um projeto com mais espaço para liberdade criativa, longe das garras de Kevin Feige, ele recuperaria seu estilo charmoso de comédia – que não agradava a todos, mas tinha sua legião de admiradores. Infelizmente – para Taika e para o público – a impressão deixada por seu novo filme é a de que o diretor realmente enfrenta uma fase difícil em sua carreira, tanto em termos de criatividade, quanto em termos de execução.
Quem Fizer Ganha é um filme de esporte baseado em fatos reais e conta a história da seleção de futebol de uma pequena ilha, considerado como o pior time do esporte após sofrer uma derrota história – 31×0 – da qual não conseguia se recuperar, até que um treinador europeu caído em desgraça por conta de seu temperamento agressivo aparece como a última esperança da equipe. Ao mesmo tempo em que ele tenta melhorar a performance dos jogadores, também precisa lidar com seus próprios demônios pessoais e reencontrar sua paz interior.
Apesar de ter como base uma história verídica, o filme despiu seus personagens de quaisquer traços de personalide. Todos funcionam como estereótipos, o treinador é o “pavio curto”, insatisfeito com a vida que leva, que grita com todos a sua volta e recorre frequentemente a insultos controversos, já os habitantes da ilha são pessoas constantemente felizes e positivas, cujo pior defeito parece ser não saber jogar futebol. A única exceção é a personagem de Jaiyah que consegue ter um pouco mais de profundidade do que os demais, ela é o coração do time e do filme, é em torno dela que acontece a melhor cena e é sua atriz, Kaimana, quem tem a melhor performance do elenco.
Taika se apoia em seu humor característico na tentativa de contornar o formato batido dos dramas desportivos para que o filme pareça diferente de tantos outros. Todavia, não consegue quebrar a estrutura triunfista de fracasso e superação, seguindo à risca a cartilha desse subgênero, sem apresentar absolutamente nada de novo. Além disso, as piadas fora do tom são repetitivas, não funcionam e parecem ter sido feitas por algum amador tentando emular o estilo do antigo Waititi.
Sem inovar e falhando até como cópia mal feita de si mesmo, Taika não consegue nem ao mesmo acertar naquilo que é formulaico para criar um feel good movie sobre vencer os obstáculos. Até isso fica prejudicado pelo tom do filme que não se encontra combinado com uma edição sem noção nenhuma de ritmo que faz com que a duração pareça muito superior do que de fato é. A prova disso é o suposto ápice do filme, que é interrompido para que em seguida um personagem conte ao outro o que aconteceu, quebrando o clímax – e apelando para um voice over facilmente evitável.
A esperança é de que em seu próximo trabalho, Waititi reencontre sua inspiração e senso de humor e volte a nos brindar com bons dramas cômicos, o que pelo que tudo indica está cada vez mais longe de acontecer.