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    Crítica | Ruído Branco

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    Adaptações cinematográficas de livros renomados sempre apresentam dificuldades em traduzir os temas e significados para a linguagem audiovisual. Com esse pensamento, Ruído Branco, o romance icônico de Don DeLillo publicado em 1985 ganha uma chance na tela grande com uma obra que fez bastante sucesso no Festival de Veneza.

    Noah Baumbach, conhecido por seus dramas familiares, é o nome responsável pela direção e tentativa de tradução do material de DeLillo. A escolha narrativa por Baumbach é criar um filme que quer ser tão fiel à obra original que em meio a tropeços quase não funciona por si próprio. 

    A trama se passa em 1984 e Jack Gladney, vivido brilhantemente por Adam Driver, é um professor universitário de meia-idade e responsável pelas aulas de Estudos de Hitler. Morando com sua esposa Babette, encarnada por Greta Gerwig, em uma velha casa cheia de filhos, sendo alguns de casamentos anteriores do casal. A família vive pacatamente dia após dia até que a vida se abala quando uma nuvem tóxica se forma repentinamente no horizonte, que o noticiário chama de “evento tóxico aéreo”.

    Ruído Branco trabalha sua narrativa em uma sátira bastante específica, retratando os medos e angústias existenciais que o ser humano enfrenta. A pacata vida de Driver e Gerwig levantam o questionamento sobre nossas conformidades e autodepreciação. O livro lançado 40 anos atrás abordava temas que são tão relevantes agora quanto no seu lançamento, Baumbach tendo noção disso entrega uma história sobre o pavor existencial estadunidense.

    O que mais se mostra interessante na obra é a sua relação com o título, o ruído branco que sempre está atrás do nosso ouvido e nos distrai da nossa própria mortalidade, uma realidade manufaturada para obstruir a verdadeira realidade e nos tornar dependentes da própria. Ao longo do filme nos deparamos com uma comédia, talvez nichada, que não tem vergonha em sentir prazer consigo mesma, utilizando tropes conhecidos como humor situacional pastelão e piadas  autodepreciativas. A narrativa de Baumbach alfineta bastante o tédio do estadunidense numa sociedade burguesa pré capitalismo do Século XXI.

    Ruído Branco é um filme questionador sobre o ser humano sendo confrontado pelas barreiras que ele mesmo construiu. Uma máquina que range um ruído branco de que nos torna dependentes para abafar a verdade da mortalidade. A obra nos convida a analisar tais temas assim como sentamos na nossa cama à noite e, assim como os personagens, contemplamos nossa existência e esperamos um significado para tudo.

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