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Crítica | Rustin

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Assim como “Oppenheimer” e “Nyad”, Rustin é uma cinebiografia focada em um recorte específico de um momento da vida de uma figura notória, que retrata o motivo de sua notoriedade. No caso de Bayard Rustin, um ativista político dos direitos civis dos negros, famoso por organizar a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, que reuniu mais 250 mil pessoas na cidade, entre elas Martin Luther King, ocasião na qual proferiu sua célebre frase “Eu tenho um sonho…”.

Se por um lado a história de Dr. King já tenha sido abordada pelas mais diversas mídias, há que se reconhecer que até agora o legado de Rustin foi pouco explorado, e nesse sentido é louvável a intenção do filme de colocar em foco essa persona tão relevante para as lutas do movimento civil negro, que inclusive serviu como uma espécie de mentor e amigo próximo de MLK.

Dito isso, o cinema não vive de boas intenções (por melhores que elas sejam), nem de boas ideias, e esse filme até tem algumas, que infelizmente nunca atingem seu potencial completo, resultando em um longa-metragem morno que nunca consegue sair do mediano e não faz jus ao homem do seu título.

Explicando melhor, na tentativa de cobrir tanto a vida política, quanto a esfera pessoal de seu protagonista, o filme se desequilibra e consegue perder a mão nos dois âmbitos. Isso porque não logra êxito em conciliar as duas narrativas e constantemente interrompe uma para contar a outra e vice e versa. Ou seja, ao invés das coisas avançarem paralelamente ao mesmo tempo, elas caminham perpendicularmente, se atravessando a todo momento, causando quebra do ritmo e, por consequência, desinteresse de quem está assistindo. Esse é um dos motivos que fazem um filme de menos de duas horas parecer mais longo do que obras como Killers of the Flower Moon (com aproximadamente 3h30) e o já mencionado Oppenheimer (3horas).

divulgação: netflix

Outro problema que surge quando duas narrativas ficam constantemente se interrompendo é a dificuldade de criar interesse por qualquer uma das delas. Na seara pessoal, o projeto se mostra empenhado em retratar a vida amorosa do personagem título, mas ironicamente, é vazio de tesão, urgência, paixão ou desejo. Até mesmo quando tenta abordar questões mais complexas – como as dificuldades de assumir um relacionamento homossexual naquela época – o filme não traz qualquer profundidade ao debate. Parece que havia um interesse genuíno dos realizadores em simbolizar aquele homem como alguém que é mais do que “apenas” ícone da política, mas também um ser humano, só não sabiam exatamente como fazer isso.

Quando o foco recai sobre ele enquanto líder político, o filme ganha algum brilho, já que o carisma, magnetismo e talento de Colman Domingo praticamente carregam as cenas por conta própria, a despeito da falta de inspiração do diretor para filma-las. Inclusive se há qualquer coisa para se louvar aqui é a estelar performance de Domingo, que esbanja tudo aquilo que falta no restante do filme: força, poder, charme e sensualidade.

É triste que uma obra que tinha tanto a dizer acaba não dizendo quase nada e cai no clichê de se contentar em passar sua “mensagem importante”, sem se ater à forma e à linguagem cinematográfica em que essa mensagem está envolta, desperdiçando o potencial de uma boa história e de um excelente ator.             

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