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    Crítica | Salamandra

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    Com muita expectativa após uma longa rodagem em festivais internacionais desde 2021, ‘Salamandra’ de Alex Carvalho vai chegar aos cinemas brasileiros em 27 de junho. O filme, uma produção entre Brasil, Alemanha, França e Bélgica, concorreu em diversos festivais relevantes no meio cinematográfico, como o Festival de Veneza. 

    Sendo uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Jean-Christophe Rufin, o filme conta a história de Catherine (interpretada por Marina Foïs), francesa que está de passagem pela casa da irmã Aude (interpretada por Anna Mouglalis) e seu marido Ricardo (Bruno Garcia). Catherine acaba conhecendo Gilberto (interpretado por Maicon Rodrigues) e se aproxima dele em uma história dramática pelo Recife.

    A maneira como o diretor usa o espaço, não apenas os apartamentos e casas burguesas e o espaço da comunidade, mas a cidade do Recife em geral, é um grande ponto a ser discutido no filme. Quando se fala em boa utilização do espaço, normalmente é associado as paisagens daquele lugar. Por exemplo, para um filme “usar bem” o espaço da cidade de Nova Iorque, seguindo essa lógica, ele teria que usar bem a estátua da liberdade ou o Empire State Building dentro das cenas. Mas isso não é tão simples assim. Como isso se encaixa dentro da lógica do filme? Dentro da sua mise-en-scène, do seu estilo? E essas questões são muito bem respondidas dentro do longa de Alex Carvalho.

    Recife não é apenas essa cidade em que tudo vai acontecer ali para a história seguir, mas é realmente o centro da base dessa história com questões mais complexas. Desde o começo, há o tom sobre a crítica social, sobre uma visão mais rica, burguesa da sociedade, afinal a protagonista é francesa e vive muito bem, mas frequenta um ambiente popular como a praia e acaba se relacionando com um mundo novo para ela. Em cada rua, em cada cena seja dentro de uma casa ou em uma festa, o ambiente é muito potente. Tanto que, em determinado momento, Catherine já se ver tão imersa nesse espaço que a dança já é natural para ela, aquela dança que ela conheceu em festas com Gilberto vira um movimento natural.

    Créditos: Pandora Filmes/Canal Brasil

    Apesar de muito boas no início para o estabelecimento, as recorrentes pausas que o filme dá no desenvolvimento acabam atrapalhando bastante o ritmo da narrativa. Acaba destoando bastante com o resto do filme, com a progressão da história, buscando esse lado íntimo da protagonista. Catherine vai passeando por lugares conhecidos por Gilberto, entrando na rotina dele e conhecendo um lado que jamais conheceria em outro país, mesmo que viajasse muito mais.

    Os melhores momentos do filme são quanto essas realidades entram em conflito, como no almoço entre Gilberto, Catherine, sua irmã, Aude e Ricardo. Os olhares, a postura de Ricardo, a forma de falar de Aude. É uma representação em tela da luta de classes discutida no filme. A partir desse embate, as outras cenas acabam tendo uma sincronia maior, como as cenas sexuais que vem a seguir e o jantar do casal principal na casa recém comprada para a realização de festas. Junto com uma estética de olhar distantes com a câmera em grande parte estática, observando de longe Catherine, sem trilha sonora, apenas o som ambiente. Único momento que isso é subvertido é no clímax, com a câmera se mexendo, uma trilha com tambores ao fundo sob o fogo. Em um final perfeito e com cicatrizes em seu corpo, a praia retorna para Catherine refletir sobre seus dramas por Recife.

    ‘Salamandra’ é um projeto ambicioso e que alcança belo resultado em suas imagens pelo Recife. Apesar de sofrer com o ritmo em determinados momentos, é um longa que mostra como o cinema brasileiro é rico em diversas formas e há muitos caminhos artísticos possíveis para nossos cineastas.

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