Sylvester Stallone é uma figurinha marcada no cinema de ação há cerca de 40 anos. Não é de se espantar que, ainda estando muito ativo no seu ofício, o ator colocaria as mãos em mais um projeto que se alinhe com o sub gênero de super-heróis que tanto fez sucesso na última década. O filme Samaritano (2022), que chega nesta semana ao serviço do prime video, é a investida de Stallone numa nova franquia super-heróica produzida e protagonizada por ele mesmo.
A história acompanha Sam (Javon Walton), um jovem marginalizado que vive cometendo pequenos delitos para ajudar sua mãe a pagar as contas e acaba se metendo com uma organização criminosa no processo. Após uma série de ocorridos, Sam passa a acreditar que Joe Smith, seu vizinho recluso, pode na verdade ser um antigo herói dado como morto e vê nele a oportunidade de impedir que um desastre maior aconteça.
Neste mundo apresentado existe uma dicotomia entre a figura do Samaritano, um herói tradicional que defende a sociedade como é, e seu irmão Nemesis, uma figura mais vilanesca e que personaliza um sentimento de vingança contra injustiças. Talvez o elemento mais interessante abordado no filme seja justamente a questão do heroísmo cair muitas vezes numa forma de manter estruturas de poder que costumam ser injustas. O filme em nenhum momento sabe como verbalizar bem essas questões envolvendo estrutura social e quando tenta, por vezes, soa brega. Posto isso, a narrativa visual do longa solidifica essas questões no imaginário ao representar uma sociedade desamparada que idealiza a figura do Nemesis(um vilão) como força de ruptura social. O que não faltam são paralelos na vida real para a idealização de figuras vilanescas em comunidades marginalizadas e isso se dá muito por uma associação quase imediata da figura do herói a uma espécie de policial que está ali não para proteger inocentes mas para preservar uma série de valores em vigência.
O filme, no entanto, concentra seus esforços na questão afetiva entre Sam e Joe e ela até que funciona bem. O jovem é carismático e a relação de amizade formada pelos dois é bem fundada. Talvez o lado emotivo do longa pudesse ser melhor explorado, no entanto, se não houvesse um desequilíbrio entre essa dinâmica de protagonistas e a dos outros personagens centrais para a trama, principalmente no que diz respeito à Cyrus, que é o principal antagonista nesta história mas recebe os piores diálogos e acaba soando sempre genérico. Cyrus carrega em si todo o ressentimento sobre a estruturação desse mundo onde a desigualdade assola a população mas acaba esvaziando todo seu discurso em frases de efeito. Mesmo com tentativas de humanizar o personagem a partir de sua relação com outros membros de seu grupo, ainda assim não existem momentos de empatia em relação à sua causa e isso joga contra o impacto do embate final envolvendo ele e os protagonistas.
A ação no longa não salta aos olhos, levando em conta que estamos lidando com figuras superpoderosas existia uma expectativa de que esse aspecto do longa pelo menos tentasse explorar cenas interessantes mas o que restam são embates sem muita energia e isso é um fator que joga contra a trama principalmente no seu terceiro ato. A direção tenta em alguns momentos até emular uma estética de quadrinhos mas acaba parecendo um efeito mal polido que mais distrai do que ajuda na imersão.
Samaritano é uma história que tem seu coração no lugar certo mas peca na execução em diversos níveis. O carisma dos protagonistas e a ambientação podem ser sólidos e a temática render boas reflexões mas existem distrações demais para que a história seja marcante.