sex, 10 maio 2024

Crítica | Sede Assassina

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Essa “transferência” de diretores estrangeiros para o cinema Hollywoodiano não é novidade no audiovisual. A indústria americana é tão rápida para fazer remakes dos longas fora de seu mercado quanto para convidar diretores talentosos do resto do mundo para iniciar sua carreira em Hollywood. O iniciado da vez é o diretor argentino Damián Szifron, muito conhecido pelo excelente Relatos Selvagens. E o projeto que dá início a essa nova etapa do cineasta, é o thriller Sede Assassina.

Eleanor é uma jovem policial talentosa que está lutando contra os demônios de seu passado quando é recrutada pelo investigador-chefe do FBI para ajudar a traçar o perfil e rastrear um assassino. Enquanto uma caçada nacional se inicia, eles são frustrados a cada passo pelo comportamento sem precedentes do criminoso. Devido aos seus traumas, Eleanor pode ser a única a compreender os movimentos dessa pessoa.

Em teoria, é um filme que funciona muito mais quando lida com o fator atmosférico dos crimes e sua eventual investigação, do que o impacto midiático e uma problematização social do país. Isso fica claro desde seu início, onde o longa estabelece o começo dos crimes, com a execução de mais de vinte pessoas na festa de ano novo e assim construindo uma atmosfera crua e tensa quanto a precisão do assassino. E de fato é bem executado esse pânico coletivo das inúmeras vítimas do assassino, todo esse passeio pela cidade e conforme a polícia vai lidando com a imparável violência. É um começo que pega o público pela qualidade, e a investigação inicial é interessantíssima dado os alinhamentos dos tiros para um local só.

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E realmente o filme lida muito bem nessa dinâmica da personagem Eleanor, interpretada por Shailene Woodley e Geoffrey, interpretado por Ben Mendelsohn. É uma relação que se sustenta na base da confiança, talento e boa química entre os personagens. Por conta da boa atuação de Shailene, a personagem acaba formando um interesse dado seu passado difícil e essa constante busca por aceitação própria, é uma mistura de diferentes travas contra sua personagem, oras seu estado emocional imprevisível, outras devido ao preconceito com seu passado e até subestimada no trabalho. E mesmo que o filme não se utilize mais do que deveria dessa condição, fica cada vez mais claro o talento da atriz e o desperdício do potencial dela em mais bons projetos.

Apesar de possuir uma cara de filme padrão americano, que constantemente já vimos outras vezes, ele possui um ar convidativo para a busca do assassino e seus eventuais motivos. Em contrapartida, quando ele busca esse comentário social da condição norte americana, ele parece não saber lidar bem com o tamanho do problema apresentado. É um formato que lida com a cobertura midiática e os diferentes comentários quanto o papel de causa e solução, que até começa interessante, mas quando o longa começa a abordar questões de armamento e o impacto causado na sociedade, ele falha. A cena do tiroteio entre polícias e suspeitos armados na farmácia deixa claro essa dificuldade em trabalhar as investigações e o tópico social que o filme insiste em colocar, simplesmente passa a sensação de deslocado no filme. O real interesse para o público aqui é a caçada ao assassino e o filme ao lidar com esse gigante problema social faz com que as investigações percam a força que estava exercendo. Tanto que ao seu final, quanto o foco é retomado, não passa mais aquela sensação tensa que até a metade da obra estava passando, mas muito mais um lembrete de que eles tinham que concluir aquele arco de história, e não desmerecendo tanto, é uma boa conclusão da história.

É um longa “Arroz com feijão” que funciona. As pessoas constantemente buscam obras impactantes/inesquecíveis, o que é ótimo, mas esquecem que também um bom trabalho é agradável de se acompanhar. De modo geral, é um filme engessado, muito provavelmente por decisões do estúdio ou até mesmo uma falta de criatividade do diretor, mas consegue entreter devido seu bom elenco e essa atmosfera convidativa. Não apresenta o diferencial dos recentes Thrillers coreanos/espanhóis, mas vale a assistida.

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