sáb, 4 maio 2024

Crítica | Sem Ar

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O subgênero do cinema chamado “thriller de sobrevivência” se concentra em contar histórias de personagens que enfrentam situações extremamente perigosas e desafiadoras, muitas vezes em ambientes hostis, e que precisam lutar para sobreviver. Esses filmes geralmente criam uma intensa sensação de tensão e suspense, mantendo o público à beira de seus assentos enquanto os personagens enfrentam ameaças à vida. A narrativa de um thriller de sobrevivência geralmente envolve a luta dos personagens contra forças naturais, como desastres, animais selvagens, condições climáticas extremas ou situações provocadas por seres humanos. Ao longo da narrativa, os personagens frequentemente experimentam um crescimento pessoal à medida que aprendem a superar obstáculos e desafios. Isso pode incluir o desenvolvimento de habilidades de sobrevivência, resiliência emocional e a formação de laços com outros sobreviventes.

Seguindo essa estrutura narrativa dos thrillers de sobrevivência, temos “Sem Ar”, dirigido por Maximilian Erlenwein, que é um remake de um longa-metragem sueco intitulado “Além das Profundezas”. A trama gira em torno de uma expedição de mergulho em alto mar que se transforma em uma angustiante luta pela sobrevivência de duas irmãs. As protagonistas, Drew (Sophie Lowe) e May (Louisa Krause), decidem explorar um dos pontos mais remotos do planeta em uma jornada subaquática. Contudo, o destino as coloca em uma situação crítica quando May fica presa a uma rocha a 30 metros de profundidade, incapaz de se movimentar. Com níveis de oxigênio em declínio e a incapacidade de buscar ajuda, Drew se vê diante do desafio de salvar a vida de sua irmã, arriscando a própria vida enquanto o tempo escorre rapidamente pelos dedos.

O filme de Maximilian não apenas faz referência a “Além das Profundezas”, na verdade, “Sem Ar” incorpora todos os elementos do subgênero de suspense natural. Podemos afirmar, portanto, que “Sem Ar” abraça os clichês característicos desse subgênero, porém, como sabemos, o uso de clichês não representa um problema quando bem executado pelo diretor. É neste ponto que o filme enfrenta sua principal questão, a construção de uma tensão “eficaz”. Em filmes desse tipo, é comum que a narrativa adote uma abordagem que se assemelha a uma montanha-russa, alternando entre momentos de elevação, que deixam o espectador inquieto em sua cadeira, e momentos de descida, que prendem a atenção. Entretanto, “Sem Ar” não consegue manter o mesmo grau de envolvimento quando se trata do suspense, apesar de um início promissor que comunica de forma eficaz o medo e a angústia. Ao longo do filme, a narrativa perde essa intensidade, como se o diretor não conseguisse imergir completamente o espectador naquele universo. É relevante ressaltar que estamos lidando com um subgênero que demanda um estímulo imediato e frontal, algo que Maximilian não proporciona de maneira plena em sua mise en scène.

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Entretanto, há um aspecto no filme de Maximilian que me chama a atenção: a forma como ele aborda o drama. Se na esfera do suspense a sua mise-en-scène não consegue impactar o espectador, o drama vivenciado pelas personagens, especialmente o de May, estabelece uma conexão mais profunda. Como mencionado anteriormente, é comum que em filmes de sobrevivência os personagens envolvidos se unam em prol da vida, e “Sem Ar” utiliza a ambientação de forma habilidosa para construir suas protagonistas. Este aspecto é habilmente estabelecido pela perspectiva do diretor, como se as profundezas do mar escondessem as mais profundas solidões. A catástrofe que se desenrola na trama comunica muito mais sobre a dor e amargura de May do que busca criar tensão. A maneira como a câmera observa é mais emocional do que aterrorizante, especialmente na forma como Maximilian se aproxima do olhar das personagens. A câmera não as sufoca, mas as escuta, esforçando-se para compreender seus traumas. Nesse contexto mais voltado ao drama, podemos identificar uma maior proximidade com o espectador.

Toda a mise en scène simboliza as inseguranças das personagens. O mar turvo evoca a alma ferida, enquanto o deslizamento remete ao colapso mental. “Sem Ar” é, acima de tudo, uma obra cinematográfica que aborda profundamente a psicologia humana, explorando os limites tanto da mente quanto do corpo. Nesse contexto, o diretor Max utiliza as duas personagens principais para transmitir essa reflexão: May traz à tona uma mente marcada por feridas e medos do passado, ao passo que boa parte do filme é dedicada à sua luta contra esses fantasmas. Por outro lado, Drew representa o corpo em um combate incessante contra a fadiga, a pressão das profundezas do mar e todos os desafios impostos pelo ambiente terrestre. Dessa maneira, o filme se configura como uma análise minuciosa da interação entre mente e corpo, explorando os limites humanos e evidenciando que, quando trabalham em conjunto, têm a capacidade de enfrentar qualquer situação extrema.

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Caique Henry
Caique Henryhttp://estacaonerd.com
E aí, galera! Eu sou o Caique Henry, um amante da arte que adora dar uns pitacos sobre cinema. Loucamente apaixonado pelo cinema de gênero, posso ser considerado o crítico de cinema mais legal do país.
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