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Início Críticas Crítica | Sem Coração (Heartless)

    Crítica | Sem Coração (Heartless)

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    Com um pôster de encher os olhos, Sem Coração é o novo longa-metragem nacional que tem chamado a atenção nos festivais ao redor do mundo. O longa se trata de uma espécie de Coming of Age, umestilo de filme tão conhecido durante as diferentes fases do cinema. E existe a escolha de se passar durante uma Alagoas dos anos 90, que segundo os diretores pegaram diversas referências com passagens de suas juventudes, sejam os bons momentos ou ruins.

    Tamara está aproveitando suas últimas semanas na vila pesqueira onde mora, antes de partir para estudar em Brasília. Um dia, ela ouve falar de uma adolescente apelidada de Sem Coração por causa de uma cicatriz que tem no peito. Ao longo do verão, Tamara sente uma atração crescente por essa menina misteriosa.

    E Sem Coração é esse pequeno retrato durante a perda de inocência desse grupo de jovens, de diferentes classes e gêneros, desta descoberta sexual compartilhada entre eles, mas também dos primeiros impactos de uma futura vida adulta, seja as separações e caminhos diferentes traçados para cada uma. O longa busca dar mais destaque para essa relação entre duas jovens de situações totalmente diferentes, enquanto uma já tem o destino planejado pela família, com estudo e investimento para seu futuro; a outra jovem precisa ajudar seu pai como pode, já trabalhando desde a juventude, e ganhando o pão de cada dia. O filme estabelece construções interessantes para revelar essas diferenças de caminho, seja pela bicicleta usada por uma para diversão e a outra sendo utilizada como instrumento para entregar as marmitas. Ou até mesmo numa passagem final onde enquanto uma pega o ônibus para voltar para casa, refletindo sobre sua despedida da cidade; a outra está em um carro compartilhado, com incertezas e medos sobre oque reserva para seu futuro.

    E em paralelo com isso, temos outras subtramas, como a do personagem Galego, que foi baseado em um infeliz acontecimento da região. Um jovem de figura muito querida entre seus amigos, extremante engraçado e carismático, mas que foi fruto de más escolhas e de perigos da região. São diferentes retratos para mostrar essa força da amizade, deixando de lado preconceitos e focando na união desse grupo entre as novas descobertas da vida.

    O visual do filme causa um chamariz, consegue causar um impacto de memórias inesquecíveis entre aqueles jovens, sejam as bonitas praias e a representação pura da natureza e fauna, que interagem naturalmente com nossos personagens. Ou até pela representação das casas, as famílias, tudo isso mostrado de maneira natural, as festas que uniam diferentes classes, gêneros e idades. E existe até o lado fantasioso do filme, representado por essa figura da baleia, que constantemente causa a curiosidade de sua criação na produção do filme, um elemento usado para unir as protagonistas por meio do sonho e aumentar a crescente atração entre elas.

    E na verdade, o longa nunca chega à um momento catártico, talvez por conta das inúmeras subtramas e algumas não tendo o desenvolvimento propriamente ao seu cem por cento. Ele coleciona esses pequenos momentos entre essas crianças que estão se desenvolvendo e conhecendo o mundo. A interação desses jovens revela essa mistura de atores profissionais, novatos e improvisações entre suas diversas brincadeiras por meio do filme. É um caos narrativo quanto balanceamento de suas histórias, mas compensa com um filme visualmente lindo e com pessoas apaixonadas envolvidas no projeto. “Sem Coração” é um belíssimo retrato entre seus noventa minutos, consegue trazer beleza visual e narrativa quanto seus elementos, nos fazendo sentir aquele ambiente e personagens e misturando a fantasia com a dura realidade de amadurecer.

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