sáb, 30 novembro 2024

Crítica | Senna

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Há algo no esporte, e no fascínio global que os protagonistas geram, que desperta uma tendência à idolatria. Quando isso se combina às vidas de herois que partiram cedo demais, surge um desejo profundo de lembrar e relembrar, frequentemente entrelaçado a aniversários marcantes e representações na cultura contemporânea. Seja na Netflix ou em outros serviços de streaming, todos apostam nessas histórias. E, ao final de 2024, é impossível ignorar o legado onipresente do ídolo brasileiro Ayrton Senna no mundo.

(Crédito divulgação)

Recentemente, Lewis Hamilton pilotou o McLaren MP4/5B de 1990, carro de seu heroi, na chuva em Interlagos, arrancando aplausos de milhares de brasileiros nas arquibancadas. Agora, a homenagem mais recente chega com a série Senna, que estreou nesta sexta-feira na Netflix. Em seis episódios de mais de uma hora, a produção começa de forma emblemática: revivendo os últimos momentos de Senna no Grande Prêmio de San Marino de 1994, na fatídica curva Tamburello. Dessa cena de alta tensão, a narrativa volta três décadas para São Paulo, quando um garoto ganha seu primeiro kart de presente do pai, e dali segue cronologicamente, explorando sua trajetória desde o kart no Brasil até a Fórmula Ford no Reino Unido.

Gabriel Leone entrega uma atuação marcante, equilibrando os dois lados de Senna: de um lado, o homem empático e comprometido com mudanças em seu país e na segurança do automobilismo; de outro, o competidor implacável, que desafiava os limites, como no icônico treino de classificação em Mônaco, em 1988, e no duelo contra Nigel Mansell no mesmo circuito, quatro anos depois.

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Momentos de glória – e de controvérsia – ganham nova vida na série, que mistura diálogos em português e inglês de forma natural. Episódios que antes só viviam na imaginação de fãs, narrados em livros ou entrevistas, são agora trazidos para a tela com cenas dinâmicas e emocionantes. Ao contrário do documentário de Asif Kapadia, de 2010, também disponível na Netflix, a licença criativa permite recriações cinematográficas das corridas, tornando-as o grande destaque. Com um orçamento estimado em US$170 milhões, as cenas de corrida são intensas e detalhadas, transportando o espectador para dentro do cockpit, mostrando cada mudança de marcha e aceleração que transformaram Senna em um atleta único.

Apesar de seus méritos, a série não escapa de críticas. Para fãs mais familiarizados com a trajetória do tricampeão, poucos momentos são surpreendentes. Além disso, a decisão de não aprofundar sua vida pessoal, como o breve destaque à então namorada Adriane Galisteu (que não tem nem 3 minutos de tela), soa como uma oportunidade perdida. Algumas cenas, especialmente as que recriam conflitos, carecem de maior intensidade emocional, como nos momentos tensos entre Senna e Frank Williams durante o fim de semana mais sombrio da Fórmula 1. Ainda assim, Senna tem tudo para ser um sucesso. Afinal, Senna continua sendo uma figura universalmente querida, tanto em 1994 quanto em 2024.

O Brasil, em especial, parece sorrir ao reviver uma época tão épica, com um piloto que revolucionou o automobilismo e inspirou gerações. A série, dirigida por Vicente Amorim, é uma tentativa digna, acessível e cativante de recontar a história de um dos maiores ícones do esporte mundial.

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