ter, 23 abril 2024

Crítica | Sra. Harris Vai a Paris

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    Talvez uma das coisas mais prazerosas em assistir um filme seja quando começamos uma obra que nos seus primeiros minutos se mostravam como uma trama mais básica e simples, mas no desenrolar da mesma vemos uma história tocante, sensível e com pitadas de apoio à causa trabalhista. Esse é o caso de Sra. Harris vai a Paris, filme da Universal Pictures que se passa em Londres, 1957.

Na trama, acompanhamos Ada Harris, uma senhora idosa que trabalha como faxineira em muitas casas espalhadas por Londres. Sendo uma pessoa de ambição quase inexistente, Ada sempre foi humilhada por seus patrões, sendo de forma ou direta, todos a tratavam como inferior e agiam de forma que se sentiam acima dela. Ao descobrir o infeliz falecimento de seu marido, a viúva começa a se permitir sonhar mais alto, buscando realizar desejos juvenis que nunca chegaram perto de serem realizados, tornando como seu objetivo comprar um vestido da famosa marca de Alta Costura Dior em Paris.

    Esta primeira parte da obra é a que se mostra como a mais fraca em comparação com o restante do filme. O núcleo envolvendo a Sra. Harris em Londres é composto por nomes fortes de elenco, porém seus personagens nunca passam de uma casca de tropes e estereótipos de filmes de superação. A personagem de Ellen Thomas nunca recebeu um ponto de vista simples ao longo do filme, estando lá apenas para performar a trope (datada e problemática) da pessoa racializada que é melhor amiga da protagonista e não tem impacto na trama principal.

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    Quando enfim a história título se inicia, a obra se torna surpreendentemente mais interessante. A primeira surpresa é a subversão ao encontrar uma Paris diferente da glamourização midiática vista fora e dentro do filme, no lugar disso, uma Paris no meio de uma luta de classes, com garis em estado de greve e sacos de lixo espalhados por toda a cidade. 

Luta de classes esta que é algo muito presente nesse filme que surpreende. Apesar de uma certa demora para enfim começar a trama, uma das ideias principais do filme é como a Sra. Harris se torna um ícone por sonhar em viver algo que não está dentro de sua classe e sim visto como um direito apenas para a elite. E dentro disso temos vários elementos que corroboram tal tema, quando Ada aparece no atelier Dior, todos os funcionários entram em êxtase por sua ousadia, criando uma união entre a viúva e os trabalhadores por um bem comum de quebrar a barreira de classes. 

Apesar de a Sra. Harris não ser uma personagem tão completa e algumas vezes com uma ingenuidade estranha, Lesley Manville tem um carisma enorme na sua atuação que torna impossível não se encantar com a personagem e seus sonhos. A cada linha de diálogo entregue por ela é possível sentir a emoção e a sensibilidade da personagem na cena.

A Sra. Harris conquista aqueles ao seu redor com o famoso “charme londrino” visto em filmes atuais que se tornaram icônicos como Paddington. Junto com a atuação de Manville, a personagem consegue encantar aqueles que duvidam de sua trajetória e empatizam com seu objetivo e ousadia de sonhar.

MHP_04854_R Isabelle Huppert stars as Claudine Colbert in director Tony Fabian’s MRS.HARRIS GOES TO PARIS, a Focus Features release. Credit: Dávid Lukács / © 2021 Ada Films Ltd – Harris Squared Kft

O filme tem como a sua principal temática o aprendizado de saber se impor, de negar quando dizem qual é o seu lugar, de ousar ser e viver. Essa temática viaja ao redor de todos os personagens em Paris, desde a própria Sra Harris até Alba Baptista como a modelo Natasha que sonha ser mais que uma peça de holofote.

A Sra. Harris vai a Paris é um filme que tem um início lento e pouco promissor, mas quando a história título chega em cena, nos deparamos com uma virada satisfatória e emocionante, sendo uma celebração da união e do sonhar.

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