Steve é baseado no livro Shy escrito por Max Porter, que também ficou responsável pelo roteiro do filme dirigido por Tim Mielants, repetindo a parceria de Small Things Like These com os atores Emily Watson e Cilliam Murphy. No longa, acompanhamos 24 horas de um dia crítico em uma escola reformatória para jovens que enfrentaram problemas com a lei, enquanto uma equipe de documentaristas busca registrar o cotidiano do local para tentar entender seu funcionamento. Apesar dos esforços hercúleos do corpo docente, a instituição é alvo de pesadas críticas por parte da sociedade que considera a educação desses “malfeitores” como um desperdício de dinheiro dos contribuintes.
Após a comunicação de que terão as portas permanentemente fechadas dentro de seis meses e sob o escrutínio das lentes dos cinegrafistas, todos os colaboradores entram em uma espiral de desespero, em especial o professor-diretor que dá título ao filme, vivido por Murphy. Ao mesmo tempo o aluno Shy – que, por sua vez, inspira o título do livro – precisa lidar com a falta de apoio familiar enquanto busca se reabilitar.
Nas cenas em que foca nesses dois personagens, Steve ganha seus melhores momentos, mergulhando na psique de dois homens profundamente perturbados, cada um lidando com seus demônios a sua maneira, sem saber como pedir ajuda ou como conseguir organizar seus pensamentos. A primeira vez que vemos uma interação entre os dois, eles parecem ter personalidades opostas, enquanto um é eufórico e agitado, o outro, por sua vez, aparenta ter um semblante calmo e atitudes mais comedidas. No fim, percebemos que ambas são fachadas para esconder toda dor e raiva que possuem engarrafadas dentro de si.

Porém, ao optar por dar o mesmo destaque para todos os outros alunos e professores da entidade, as coisas começam a desandar. Na tentativa de tentar dar profundidade para uma infinidade de personagens, o diretor e seu editor apostam em uma montagem frenética – semelhante a The Bear – que pretende dar conta de uma gama gigantesca de informações e refletir as mentes agitadas dos envolvidos. Contudo, o efeito acaba sendo o contrário do pretendido, fazendo com que as características marcantes dos demais personagens sejam tão reforçadas de forma a tornarem-se caricaturas estereotipadas de si mesmo, reduzindo-os a um único traço de personalidade.
O filme até se usa de sacadas inteligentes como a utilização do formato documental dentro da ficção para poder abusar um pouco da expositividade de uma forma não enfadonha e a combinação de câmera e edição frenética que nos transportam para dentro daquele caos emocional. Em contraste, nos momentos de calmaria, os closes no rosto de Cillian Murphy parecem mergulhar dentro de seus famosos olhos tristes, nos convidando para adentrar na intimidade daquele personagem. Já em cenas como as da partida de futebol, a aproximação genuína acontece através da observação desse momento de descontração e vulnerabilidade dos garotos.
É um filme inconstante, que exagera no drama ao fingir ser muito grandioso e maior do que é, tentando dar conta de diversas histórias paralelas – nem sempre interessantes – e acaba negligenciando as duas histórias que deveriam seu ponto de sustentação. Em contrapartida, acerta no simples e no descontraído, quando nos permite olhar o expressivo rosto de Murphy e perceber a frustração em seu semblante ao invés de colocá-lo para gritar desesperadamente. O mesmo acontece com o personagem de Shy, que protagoniza ótimos momentos, como sua “fuga” em silêncio com todos seus sentimentos refletidos nas expressões do jovem ator, conforme ele mergulha na água. Entre seus altos e baixos, a principal fraqueza do diretor parece ser sua incapacidade de perceber justamente quais eram os pontos fortes de sua obra.