Do mesmo diretor do vencedor do Oscar, Spotlight, o filme conta a história de um homem simples, vivido por Matt Damon (Good Will Hunting), que viaja para França para visitar sua filha na cadeia e se depara com novas pistas que podem comprovar sua inocência e levar à sua absolvição. Nessa jornada, ele encontrará desafios ao esbarrar em diferenças culturais, a começar pelo idioma que ele desconhece.
O personagem de Damon beira a caricatura, já que é um típico estadunidense, classe média baixa, trabalhador, patriota, que por baixo de muita brutalidade e masculinidade, possui um coração gigante – o que é demonstrado por meio de interações piegas com uma criança que só está no filme para humanizar o mocinho. Assim, o longa finge que seu protagonista é supercomplexo e multifacetado, quando na verdade é só mais um estereótipo norte-americano. Em uma cena, alguém o questiona se ele votou no Trump e ele diz apenas que não votou em ninguém porque estava preso.
As relações afetivas que o personagem estabelece também não são cativantes, na verdade todo o arco dramático fica extremamente comprometido, pois é difícil estabelecer qualquer conexão emocional quando parece que estamos assistindo rascunhos de seres-humanos mal desenvolvidos. Assim, os momentos que deveriam ser de ternura, acabam parecendo forçados e causam tédio.
Por sua vez, a parte investigativa não é muito melhor, para começar o filme já parte do princípio de que a menina é inocente e sequer trabalha com um suspense em torno de sua possível culpa, algo que poderia tornar a jornada um pouco mais intrigante. Ao invés disso, temos Matt Damon meio sem rumo tentando caçar uma pessoa em uma cidade gigante. O público nunca é chamado para participar dessa suposta investigação, desvendando pistas com o protagonista, apenas acompanha suas idas e vindas enquanto ele recebe respostas de mão beijada ou por sorte.
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Contudo, existe um aspecto do filme que funciona muito bem, acompanhar Damon sofrendo para lidar com uma cultura diferente da sua, enquanto tenta entender o complicado sistema de justiça francês para poder lutar contra ele. Ele é um esquentado que só está acostumado com trabalhos manuais e de repente se vê colocado em uma situação que irá exigir jogo de cintura para quebrar as barreiras culturais e linguísticas.
O filme existe em três vertentes e só funciona de verdade em uma delas, que o salva de ser um completo fracasso. A performance de Damon – um ator nem sempre consistente – é digna de elogios, pois ele faz o que pode para que seu personagem seja um pouco parecido com um ser humano, tornando a experiência levemente mais palatável.
Se o diretor dedicasse mais espaço para esse tipo de desenvolvimento de personagem e perdesse menos tempo tentando construir arcos dramáticos aborrecidos, poderia ter um filme muito melhor em suas mãos. Mas é preciso julgar a obra por aquilo que ela é e não por aquilo que eu gostaria que ela fosse, e, infelizmente, essa é recheada com algumas decisões narrativas muito ruins que comprometem o ritmo e, por consequência, o engajamento de quem assiste – em determinados momentos. Felizmente, quando acerta, acerta bem e acaba recuperando a atenção do espectador.
Trata-se do típico filme mediano, as vezes um pouco acima da média e as vezes um pouco abaixo. O longa está disponível na Netflix e tem ocupado boas posições no top10 da plataforma de streaming, justamente por ter esse jeitinho que, apesar de alguns erros, dificilmente irá desagradar profundamente alguém.