sex, 26 abril 2024

Crítica | Suncoast

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Suncoast é o longa de estreia da diretora Laura Chinn e teve sua e teve sua estreia em Sundance no final de janeiro desse ano. O filme semiautobiográfico conta a história de uma garota adolescente que faz o possível para viver experiências normais da idade enquanto precisa lidar com o fato de que seu irmão mais velho sofre de uma doença terminal e precisa ser internado em uma clínica, na qual ficará sob cuidados constantes até falecer. Tendo perdido o pai quando criança, a garota ainda precisa lidar com sua mãe que por estar sobrecarregada com o fardo de ver um dos filhos doentes, negligencia a protagonista – chegando até a esquecer de sua existência – e espera que ela se comporte como uma adulta, assumindo as responsabilidades de zelar pelo irmão enfermo.

Em meio ao seu caos pessoal, a jovem presencia os bastidores de um dos processos judicias mais famosos na história dos Estados Unidos envolvendo a questão da eutanásia, Terri Schiavo sofreu uma parada cardíaca e perdeu suas funções cerebrais, entrando posteriormente em estado vegetativo, o que levou seu marido a entrar com um pedido judicial para desligar seus aparelhos. Os pais da mulher contestaram o pleito e o embate jurídico durou anos, mobilizando uma orla de ativistas pró-vida. No filme, Schiavo está internada na mesma clínica em que o irmão da personagem principal, o que torna a internação e as visitas ainda mais conturbadas, já que os manifestantes se aglomeram nas entradas e chegam a ameaçar a bombardear o local.

O dilema da jovem Doris é justamente balancear o processo de luto de alguém que precisou amadurecer cedo demais para ajudar desde pequena a cuidar do irmão e na adolescência é obrigada a assisti-lo definhar lentamente diante de seus olhos, sem poder fazer mais nada por ele, além de companhia enquanto busca por algum resquício de normalidade em sua vida pessoal, desejando por experiências típicas da idade, como frequentar festas, ter seu primeiro amor e participar do baile de formatura com seu novo grupo de amigos. Nesse interim, ela conhecerá Paul – um dos ativistas acampando em frente à clínica – que se tornará uma espécie de figura paterna em sua vida, oferecendo-lhe algum conforto.

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Ou seja, existem basicamente três subplots dentro da trama principal, e com menos de duas horas de duração o filme tenta trabalhar mais assuntos do que consegue dar conta, abordando questões familiares, a dor do luto, os dilemas éticos envolvendo a eutanásia, dramas adolescentes e a relação de amizade/mentoria entre Paul e Doris. Trata-se de um projeto bastante ambicioso, principalmente levando em conta que esse é o primeiro longa-metragem da diretora e pelo menos dois dos seguimentos funcionam suficientemente bem sozinhos: o núcleo familiar com a mãe e o irmão – que consegue ser dramático e emotivo, sem perder a mão no tom; e o núcleo da escola envolvendo as descobertas da adolescência – que é de longe o maior acerto da obra, já que lida de forma criativa com os dramas da adolescência.

Por outro lado, toda a subtrama envolvendo Paul é completamente descartável para evolução da narrativa e atrapalha o ritmo do filme. O rapaz funciona como uma espécie de mestre Yoda do luto e está sempre pronto para oferecer doses de sabedoria para todos os dilemas que a menina enfrenta, ao mesmo tempo também faz um papel paternal, levando-a para assistir o Super Bowl ou ensinando-a a dirigir. Na tentativa de trazer alguma doçura para a obra, essa ligação entre os dois até acaba rendendo momentos de ternura, no entanto essa quebra tira o impacto do filme que poderia ter se confiasse no seu potencial, até porque as cenas entre ela e suas amigas de colégio já trazem a dose necessária de descontração, inclusive são tão boas que poderiam ter rendido um filme à parte.

Entre altos e baixos, o saldo final é positivo e apesar de nem sempre se conectarem bem, as cenas funcionam pelo menos isoladamente. Contudo, a diretora abocanha mais do que consegue mastigar, e a maioria de seus temas acabam mal desenvolvidos ou abordados apenas superficialmente, o que faz com que essa seja uma narrativa cheia de assuntos pesados e mal digeridos.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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