Sutura, série nacional lançada no Prime Video, promete unir drama médico e thriller criminal em uma narrativa nunca antes vista na TV nacional. A trama segue a história de dois médicos, que, à primeira vista, parecem ser profissionais dedicados à medicina, mas, na realidade, vivem uma vida dupla, atuando como médicos do crime.
A trama central gira em torno dos médicos, interpretados por Claudia Abreu (O Caminho das Nuvens) e Humberto Morais (A História Delas), que têm uma existência duplamente complexa. Sendo esse o ponto mais forte da produção, pois com muita competência explora o conflito moral deles, que, ao mesmo tempo em que salvam vidas, também se veem envolvidos em práticas que desafiam a ética e a lei.
O elenco tem uma química impressionante. Claudia Abreu entrega uma atuação sólida imergindo com profundidade nos dilemas de sua personagem. Humberto Morais tem um estilo mais contido, mas cresce quando precisa desenvolver as ambiguidades de seu personagem. Porém a série peca, em alguns momentos, ao não aprofundar os demais personagens e suas motivações da história, em especial os que não estão no núcleo médico. Mas nada que atrapalhe o envolvimento da história. Os atores Naruna Costa (Irmandade), Juliana Paiva (Família É Tudo), Danilo Mesquita (Ricos de Amor) e Lara Tremouroux (Medusa) são outros destaques da trama.
Os diretores Diego Martins (Terra e Paixão) e Jessica Queiroz (Mila no Multiverso) não escondem suas referências e abordam elas de modo a criar uma conexão com os fãs de séries como House e Grey’s Anatomy, o que funciona muito bem. A reprodução do dia a dia dos médicos é feita de modo visceral e impacta pela fidelidade. A fotografia transmite uma sensação de clausura nos momentos em que os médicos precisam explorar seu “lado negro”. A iluminação dentro e fora do hospital tem um contraste interessante, mostrando os dois mundos em que os personagens habitam. A produção, afim de dar mescla planos abertos e fechados para mostrar os atores em ação, executando cirurgias complexas, algo que fará a alegria dos fãs das séries médicas.
Temas como racismo e o mercado absurdo dos planos de saúde são apresentados pra mostra a cruel realidade nos bastidores dos hospitais brasileiros. O ritmo da série se mantém constante, com episódios que desenvolvem a história de forma gradual, apresentando aqui e ali reviravoltas e surpresas, que vão deixar o espectador na ponta da cadeira. Com isso a narrativa aposta nas reflexões que os personagens enfrentam.
Sutura conta com um elenco primoroso e levanta questões relevantes, especialmente no contexto de um Brasil marcado por desigualdades e falhas no sistema de saúde. Que venha logo a segunda temporada dessa produção que mescla de modo tão competente elementos do universo médico com o mundo do crime.