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    Crítica | Terra de Ciganos

    Produção que mescla registros documentais e ficção se expressa através da música, porém falta uma maior intensidade na manifestação de seus múltiplos sentimentos

    Imagem: Veríssimo Produções
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    No longa-metragem documental Terra de Ciganos, o diretor Naji Sidki explora a vida de várias comunidades ciganas pelo Brasil (país com a terceira maior população cigana do mundo), mostrando como preservam suas tradições e cultura enquanto se integram à sociedade moderna brasileira, com um olhar especial para os desdobramentos na música. 

    Alguns documentários que envolvem questões sociais e históricas, assim como grupos e sociedades em questão de vulnerabilidade, tendem a seguir uma mesma linguagem semelhante a uma forma de se fazer jornalismo impactante, com reportagens que captam depoimentos comoventes, tomadas que ostentam paisagens abertas e um único destaque isolado em meio a imensidão, simulações que servem para ilustrar ou resumir contextos de tal temática, entre diversos outros elementos que, caso usados levianamente, podem comprometer a obra. Possuindo essas características e um pouco mais, Terra de Ciganos, dirigido por Naji Sidki, é um road movie no formato de documentário musical, que teve sua estreia no 16° Festival Internacional do Documentário Musical In-Edit, é um retrato imersivo da cultura cigana pelo Brasil, com foco no nomadismo e a constante luta da comunidade por adaptação e para manter seus costumes e tradições vivos, através de números musicais e dramatizações que se fundem com o estilo documental.

    Ao mostrar a resiliência da cultura cigana preservada ao longo dos séculos, mesmo diante de uma sociedade moderna, Terra de Ciganos acaba abraçando e respeitando a história de seus entrevistados, muitos deles músicos, artistas de circo e comerciantes, destacando também a diferença entre grupos, como os Rom, Sinti e Calon em seus dialetos e costumes. Atreladas a essa temática, situações como abandono e esquecimento da comunidade por parte da modernidade também se fazem presentes, servindo para abrir debates sobre até onde um povo tradicional deve ir para sobreviver, porém sem deixar de lado suas raízes. São sub temáticas importantes que se fazem presentes sem tornar o longa repetitivo, sendo ilustrados por números musicais que auxiliam na compreensão do assunto. Esses, por outro lado, podemos considerar excessivos, apesar de serem um ponto chave para o diferencial da produção.

    Imagem: Veríssimo Produções

    O que há de criativo no argumento do longa-metragem da Veríssimo Produções falta em sensibilidade e condução assertiva por parte da execução deste. Apesar da evidente pesquisa bem aprofundada de Kátia Coelho e Naji Sidki, que também assinam o roteiro, sobre as condições nômades no terceiro país com a maior população cigana do planeta, falta em Terra de Ciganos um certo apelo emocional sobre o assunto, deixando uma sensação de misto de excessivas informações que são colocadas em tela, tal como um extenso projeto acadêmico, que procura gerar comoção através dos vários depoimentos e números musicais presentes na obra. Ora funcionais, ora excessivos e quase servindo como preenchimento de espaços vazios – também com a finalidade de alongar a metragem do filme -, as sequências de música apresentam canções e ritmos típicos ciganos, belos e curiosos, que devem despertar no público que desconhece essa valiosíssima cultura bastante interesse em saber mais. A música, como, juntamente com o deslocamento e adaptação, peça fundamental para o desdobramento da narrativa do longa, reúne artistas ciganos de cidades e regiões distantes uma das outras, que compartilham suas semelhanças, assim como particularidades, abrindo também as discussões sobre a inserção da comundade na sociedade brasileira, o que acontece gradativamente, pois fica evidente no filme o quanto a população cigana ainda é excluída e ignorada por uma maioria que adota estereótipos.

    Por outro lado, tanto nos números musicais quanto o restante do material documental carecem de uma direção mais assertiva, que soubesse inserir particularidades e peculiaridades no modo de filmar suas ideias e temas interessantes. Longe de apresentar uma estética caprichosa, ainda mais nas sequências iniciais de música que se assemelham a videoclipes repletos de cortes em um trabalho de edição rápido e nervoso, Terra de Ciganos, em alguns momentos, consegue aproveitar paisagens rurais do Brasil, além de destacar cores e danças ciganas em planos que valorizam suas artes, mesmo que em poucos momentos.

    Apesar de escorregar tanto na estética, quanto na experiência sensorial, o filme consegue entregar um belo trabalho que nos faz repletir sobre o quão diversa é a cultura presente em territórios brasileiros e como um país que abraça tantos povos, manifestações, etnias e religiões ainda deixa a população cigana tão escanteada.

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