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    Crítica 2 | The Flash

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    A produção do filme The Flash não foi um processo fácil. O longa demorou quase 9 anos para ser lançado nos cinemas desde seu anúncio em 2014, durante esse tempo, passou por várias trocas de direção e roteiro. Muitas dessas saídas ocorreram por conta de diferenças criativas entre a direção e o estúdio. Depois de muitos anos e um DCEU falecido, The Flash debuta nas telas grandes em junho de 2023, mas os atrasos na produção do filme acabaram trazendo malefícios. 

    Uma grande questão sobre a obra é que, talvez, The Flash demorou demais para ser lançado. A trama do filme se inspira bastante na tendência dos últimos 10 anos no mainstream de abordar o multiverso. A história então, consiste em Barry Allen se deparando dentro de um mundo que não é seu, lidando com uma versão mais jovem sua e uma ameaça que não deveria acontecer. Essas batidas já são bem familiares para o público, com grandes filmes como No Way Home até obras icônicas como Into the Spiderverse. A questão é que, a novidade de um multiverso não é mais novidade, então qual é o ponto de The Flash existir?

    Obras abordando o Multiverso se tornaram tendência no mainstream, mas não é de hoje que elas existem. Há dentro dessas obras uma beleza em explorar o conceito de múltiplas possibilidades, acompanhando os personagens como seres humanos podendo interagir dentro delas, buscando padrões, questionando padrões, o que importa é a existência dessas possibilidades. Ou seja, não existe “reinventar a roda” nesse meio, ela já está girando a muito tempo, o que podemos nos deparar é com uma interpretação diferente para essa roda. Nessa natureza questionadora temos um exemplo no filme lançado na mesma época, Através do Aranhaverso, que questiona a obrigatoriedade de sacrifícios e tragédias “inevitáveis” usando o multiverso como um artifício metalinguístico. 

    E então chegamos em The Flash, que não reinventa a roda, não questiona a roda e nem mesmo busca interpretar diferente a roda. A jornada de Barry Allen aqui é entender a inevitabilidade de acontecimentos trágicos e como a negação de seguir em frente perante a eles podem ser catastróficos através da metáfora de um multiverso colapsando por conta da irresponsabilidade do protagonista. Vemos aqui um tema familiar de inevitabilidade e sacrifícios perante a um bem maior, e está tudo bem. O que torna The Flash como uma obra válida não é o questionamento ou reinvenção de gênero cobrado ao mesmo, e sim a sinceridade de seus temas. 

    O roteiro de Christina Hodson apesar de exagerar na didática, é honesto em expressar bem os seus sentimentos. A roteirista já tem um histórico sólido quando se trata em abordar temas familiares com uma sinceridade não-familiar em uma Hollywood cada vez mais pasteurizada. Por exemplo, obras como Bumblebee e Aves de Rapina, que apesar de serem vistas como “simples” no público geral, apresentam um charme sincero nos seus temas, validando a sua existência sem precisar reinventar. 

    Infelizmente onde existe sinceridade nos temas mais sensíveis de The Flash, também existe um aparente cinismo dentro do longa. Junto com a tendência de Multiverso, vem também a tendência dos cameos, participações especiais de atores de filmes anteriores interpretando seus personagens originais. A decisão de incluir esse elemento na obra é uma clara tentativa de capitalizar em cima de nostalgia, porém é possível extrair um certo valor e profundidade se tais cameos forem bem utilizados. Nesse caso, temos o retorno de Michael Keaton como o Batman do Tim Burton. 

    É agradável a aparição do personagem, porém não passa disso, uma aparição agradável. A influência que o Batman tem para a trama ou para o desenvolvimento de Barry é quase nula, o que deixa um gosto amargo de desperdício em cima do personagem. O mesmo se aplica para Sasha Calle, que mesmo não sendo um retorno, é um potencial jogado fora com sua participação sendo alegórica para entregar cenas de ação com maior escala.

    Em uma cena específica nos deparamos com outros cameos que em sua maioria são inofensivos, exceto o rosto de figuras já falecidas sendo transformadas em puros IPs. Aí então que temos o problema do atraso de The Flash, os cameos vazios que seriam uma novidade agradável anos atrás acabam sendo recebidos só como mais uma tentativa cínica de minar a nostalgia do espectador. 

    Depois de tantas polêmicas e complicações, The Flash encontra seu lugar como uma obra agradavelmente medíocre, que tem sua existência válida por sua sinceridade mas que não compensa pelo cinismo corporativo de seguir tendências de Hollywood. Em 2023, onde estão sendo lançados mais de 10 produções de super-heróis e quadrinhos, é possível se considerar positivo o lançamento de uma obra “boa o suficiente”? No fim The Flash se torna um filme esquecível e se for lembrado será apenas como “mais um daquela época dos multiversos” e nunca como um ponto memorável da era. 

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