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    Crítica | Tia Virginia

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    Famílias disfuncionais estão associadas muito a uma tradição de comédia no Brasil, seja em programas para a televisão como Sai de Baixo ou A Grande Família , aprendemos a tratar com alguma leveza certas problemáticas das relações familiares muito como forma de sublimar algumas questões muito reais que lidamos no dia a dia. Não há problema algum nisso, mas é importante também que existam produções que nos ajudem a encarar essas questões de frente e é possível dizer que Tia Virginia se enquadra nestes casos.

    O filme de Fábio Meira acompanha Virginia (Vera Holtz), uma mulher de cerca de 70 anos que vive a rotina de alguém responsável apenas pelo trabalho doméstico e os cuidados de sua mãe, já muito debilitada pela idade. A história vai focar na chegada da família de Virginia para a comemoração do Natal e a inevitáveis intrigas resultantes desse encontro acompanhado de anos de ressentimento.

    Foto: Andréa Testoni / Zuppa Filmes

    A protagonista é apresentada em sua rotina de cuidado e o design de produção trás para a casa em que o filme se passa quase inteiramente todo um contexto de saturação, um exagero de elementos, cada um com sua história e ainda demandando uma atenção. Em muitos momentos objetos surgem em cena apresentados sob a perspectiva da necessidade de preservação e com isso é construída bem a ideia de pressão sob Virginia como a guardiã desse ambiente que se assemelha mais a um museu do que um lar. As interações entre as 3 irmãs (Vera, Vanda e Virgínia) são sempre carregadas de um evidente desconforto entre um lado que deseja manter a comodidade da situação e passar por cima de sentimentos reprimidos em função da convivência(Vanda e Vera) e o lado de Virginia que até tenta encontrar energia para lidar com a situação de maneira pacífica mas se vê confrontada pela atitude desconsiderada de suas irmãs. A presença do restante da família serve também para criar outros contrapontos em relação ao impasse entre as irmãs o que ajuda a fornecer camadas para a encenação de momentos mais carregados da trama apesar de também ser o elemento mais frágil do filme uma vez que esses outros personagens são responsáveis por alguns dos segmentos de menos força, até pela discrepância nas atuações em relação ao trio central da trama.

    Louise Cardoso, Vera Holtz e Arlete Salles. Foto: Andréa Testoni/Zuppa Filmes

    Talvez não houvesse momento mais oportuno para o lançamento de um longa com estes temas quanto na semana em que foi revelado o tema de “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil” na redação do exame nacional do ensino médio(ENEM) deste ano. O filme consegue entregar de maneira muito genuína um olhar sobre os efeitos dessa invisibilização se atendo a um cenário extremamente limitado, o que permite que o sentimento seja realmente o de acompanhar o processo por trás do desconforto de Virginia em relação a toda essa situação de maneira orgânica apesar de alguns momentos que soam excêntricos apenas pelo valor do excêntrico, mas sem muito carisma.

    Tia Virginia é um filme que consegue se sustentar em suas boas atuações e na numa cenografia sensível apesar de alguns elos fracos que atrapalham o ritmo da jornada de, ainda assim consegue ser uma experiência honesta e por vezes tocante em sua capacidade de emular o desconforto de lidar com ressentimentos mal resolvidos e a liberdade que vem em confrontá-los.

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