sáb, 27 abril 2024

Crítica | Todos Nós Desconhecidos (All of Us Strangers)

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Escrito e dirigido por Andrew Haigh (Looking), All of Us Strangers conta a história de solidão de um homem gay que mora em uma versão fictícia de Londres que se encontra praticamente deserta, sua rotina mostrada nos primeiros minutos indica que o rapaz leva uma vida isolada dos demais, até que em uma noite seu único vizinho bate à sua porta e lhe oferece companhia. A princípio, ele se mostra reticente em aceitar dividir momentos com outra pessoa, mas depois de pouco tempo se abre para essa possibilidade. Paralelamente, precisa enfrentar questões envolvendo seus pais e sua infância conturbada, para que possa, enfim, superar os traumas do passado e consiga se permitir viver as possibilidades do presente/futuro.

Esse é o máximo que pode ser dito acerca da história sem revelar muito das camadas e surpresas que o filme reserva, justamente por isso, é tão recomendável que o público fuja de sinopses – inclusive oficiais – e resumos que possam comprometer a experiência de descobrir essa obra do zero. É claro que seu mérito não deriva única e exclusivamente de seus pontos de virada, no entanto, desvendar o que se passa na cabeça do protagonista é parte da experiência proposta e ter informações demais pode sim retirar o impacto de algumas cenas – em específico o momento da noite de natal.

O que se pode dizer sobre esse longa sem prejudicar a experiência de quem ainda não viu é que Haigh fez um dos melhores filmes do ano, sem qualquer exagero. Mesmo com toda sua simplicidade – já que se trata de um filme indie, de orçamento modesto, filmado em poucas localidades e com apenas quatro pessoas no elenco inteiro – trata-se um projeto muito grandioso, gigante em coração, alma e o mais importante de tudo, storytelling.

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Afinal de contas, cinema nada mais é do que a arte de contar histórias. Aqui temos o caso de uma excelente história bem intrincada que é contada da melhor forma por um diretor experiente em manipular na dose correta as emoções do público, auxiliado por um elenco magnânimo que carrega em seus semblantes às peculiaridades e sentimentos de seus personagens tão complexos e bem desenvolvidos, de maneira que é inevitável se engajar com eles e ficar curioso para ver onde tudo aquilo vai dar.

All of Us Strangers é um mergulho na psique traumatizada de seu protagonista, Adam, e lida com questões complexas envolvendo dramas familiares, dificuldades enfrentadas por pessoas LGBTs, especialmente as mais velhas, que precisaram se assumir em tempos ainda menos bondosos e tiveram que viver sob o medo constante da AIDS. Todavia, nenhuma dessas situações é abordada de forma panfletária, pelo contrário, trata-se de um drama intimista que fala dessas questões com muita humanidade e sensibilidade, sempre pelo ponto de vista de um personagem que carrega diariamente essas cicatrizes em seu semblante.

Dispensando altas doses de expositividade, Haigh demonstra o estado mental de seu protagonista através de uma combinação perfeita da atuação marcante de Andrew Scott (Fleabag) e algumas escolhas técnicas que vão desde a composição da fotografia que dá o tom para os sentimentos do personagem até a seleção musical recheada de pop hits dos anos oitenta. Assim, o público imerge na cada vez mais na cabeça de Adam e consegue se sensibilizar tanto com suas aflições. Se nos minutos iniciais o silêncio é usado para enfatizar a solidão daquele homem, quando os diálogos finalmente chegam, o espectador já está tão conectado com ele que sente na pele suas dores.  

O casamento entre a sutileza da narrativa e a brutalidade da história somado às reviravoltas do enredo, vão fazer com que esse seja um daqueles filmes que valem a pena serem discutidos com os amigos após a sessão de cinema, e debates interessantes podem ser travados acerca da interpretação da cena final, sem sombra de dúvidas é uma obra que merece ser vista e amplamente comentada.

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Raíssa Sanches
Raíssa Sancheshttp://estacaonerd.com
Formada em direito e apaixonada por cinema
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