A nova comédia-romântica da Netflix, Tudo Em Família (A Family Affair) apresenta Zara (Joey King), uma jovem que trabalha para o egocêntrico ator Chris Cole (Zac Efron) e se sente estagnada na sua carreira. Ao descobrir que seu chefe começa a ter um caso com sua mãe, Brooke (Nicole Kidman), os três acabam entrando em conflitos que desafiam suas relações pessoais e profissionais.
A fórmula continua sendo a mesma: a Netflix resgata uma sub-temática, que já teve sua era de ouro, de determinado gênero cinematográfico, convoca um elenco de peso, recria situações já abordadas em produções anteriores e faz o máximo para fazer bom uso de seu orçamento superfaturado, exceto investir em um roteiro de qualidade. Poderia ser desonesto ao afirmar que Tudo Em Família (A Family Affair) é mais um produto dessa leva fútil desprovida de originalidade, mas, por outro lado, a comédia-romântica que captura um leve e saudoso estilo dos anos 90 e 2000, consegue apresentar um diferencial em meio a tantas produções originais do streaming que são mais do mesmo.
É inviável, porém, afirmar com precisão que Tudo Em Família é um grande frescor em meio a tanto azedume produzido recentemente pela Netflix, mas também é inegável que a comédia garante entretenimento e até uma curiosa dose emocional, devido a um leve abordagem sobre maturidade tanto no meio profissional quanto no pessoal. O roteiro assinado por Carrie Solomon pode ter estranhas, ou até mesmo bizarras, semelhanças com Uma Ideia de Você (2024), do Prime Video, mas consegue se sustentar sozinho a partir do final do segundo ato, onde o tal lado emocional entra em ação e, mesmo que não apresente novidades, funciona graças ao elenco carismático, à princípio subutilizado, que, felizmente, recebe um trabalho bem estruturado ao longo da projeção.
Zac Efron, Nicole Kidman e Joey King se sentem confortáveis até demais em seus respectivos papéis, entre o primeiro e segundo ato do longa. O uso adequado de diálogos e situações bem arquitetadas promovem uma certa evolução de seus personagens, mesmo que eles não saiam de um notável clichê de desenvolvimento. Porém, chega a ser um alívio ver que o elenco composto por nomes de peso não foi subutilizado por completo. A vencedora do Oscar, Kathy Bates, também não é apenas uma adesão ao longa, já que sua personagem se mostra compreensível e dotada de bons argumentos em cenas amistosas e reflexivas com King e Kidman.
É evidente a inevitabilidade em ignorar falhas na escrita e na condução, ora acostumada com uma mesmice nem um pouco criativa, ora focada em estabelecer uma sensibilidade nas situações apresentadas pela premissa, que tornam os personagens da trama cativantes. Richard LaGravenese, de produções como P.S. Eu Te Amo e Escritores da Liberdade, tem experiência na direção de dramas e conflitos pessoais e, pelo que foi visto em Tudo Em Família, o realizador optou por não sair de sua zona de conforto.
Com uma história batida de romance improvável e os obstáculos que o impedem de acontecer, Tudo Em Família, por mais clichê que pareça, consegue entreter e até comover, graças ao elenco assertivo e pelo fato de, no último momento, a produção ter adotado uma simplicidade sincera para o seu desfecho.