qua, 18 dezembro 2024

Crítica | Um Clássico Filme de Terror

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Quando produtores, roteiristas e diretores se reúnem e decidem que um filme vai se chamar Um Clássico Filme de Terror é óbvio que a ideia de fazer homenagem – ou tirar sarro – já existe muito antes de qualquer construção geral do projeto. Alguém estava desesperadamente procurando uma forma de abraçar clichês célebres mas não tinha nem muita convicção ou sequer inspiração verdadeira para isso. A solução geralmente é apelar para o artifício mais fácil e mais recorrente das últimas duas décadas: a autoconsciência de gênero.

Aqui neste filme, que estreou no último dia 14 na Netflix, os cineastas italianos Roberto De Feo e Paolo Strippoli evidentemente pretendem fazer uma carta de amor ao horror de cabana (grupo de jovens em viagem numa van que acabam indo parar numa casa misteriosa na floresta). Simultaneamente, a dupla traz uma motivação “esperta” para justificar a presença de todas as dezenas de lugares comuns que a história contém só na primeira meia hora – algo não tão diferente do que faz o irregular mas engenhoso O Segredo da Cabana (2012). 

Ainda que num roteiro de truques fáceis e baratos, os diretores usam o minimalismo do contexto para criar algumas belas composições visuais, especialmente no modo como trabalham a alternância da luz avermelhada e azulada (o que apropriadamente remente ao subgênero de horror italiano giallo). A alternância de dia e noite é bem pontuada por uma fotografia sempre muito contrastada e cheia de contra plongées estilizados que parecem sempre bancar uma seriedade incomum em narrativas metalinguísticas.

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A muito boa atriz Matilda Lutz (que brilha no ótimo Vingança, de 2018) é encarregada da ingrata missão de ser ponto de referência numa trama que, após umas tantas enroladas, trata de eliminar os excessos de personagens genéricos. E, mesmo que De Feo e Strippoli demonstrem alguma aptidão estética, rapidamente suas referências acabam soando muito mais como cópias meio descaradas do que como homenagens. Midsommar (2019) – e por consequência também O Homem de Palha (1973) – é a maior vítima do amontoado de pastiches, que vão desde o martelo de madeira até cultos violentos em clareiras – nem o mimetismo da personagem chorando escapou aqui.

Em teoria, Um Clássico Filme de Terror usa a autoconsciência de sua segunda metade como blindagem para acusações de plágio (“seu filme é muito ruim, é uma cópia de vários outros”, diz uma personagem). Teria um apelo maior caso essa sacada condescendente e despida de originalidade ao menos conseguisse reinventar a estrutura do filme de algum modo. Mas, na prática, ele incorre em algumas reviravoltas e situações ainda mais primárias (“vilão” dando chilique, personagem falsamente angelical, revelação acerca da localização). Não apenas subverte zero tropos como não sabe brincar de maneira espirituosa com eles.

Aliás, usar o epílogo para debochar de tudo o que acabou de acontecer só invalida as poucas tentativas de criar um drama real para os protagonistas (alguns deles totalmente abandonados no meio do caminho). Mas tudo bem, porque provavelmente o título é mais uma sacada para defender os rumos óbvios da história – o que, nesse caso, deveriam trocar para Um Fraco Filme de Terror.

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André Guerra
André Guerrahttp://estacaonerd.com
Recifense, jornalista, leonino consciente, cinéfilo doutrinador, agnóstico pagão e em constante desconstrução.
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