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Início Críticas Crítica | Um Lugar Silencioso – Parte II

    Crítica | Um Lugar Silencioso – Parte II

    Evelyn (Emily Blunt) and Marcus (Noah Jupe) brave the unknown in "A Quiet Place Part II.”
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    Dentro de um contexto mercadológico hollywoodiano, certos filmes são demarcados como ponto inicial para que se dê prosseguimento a universos de forma contínua ou estendida. Cercado por essa prática sistemática de criação, Um Lugar Silencioso: Parte II se coloca como produto que nasce dessa urgência de continuar o sucesso do primeiro filme. Entretanto, ao se propor retornar para o local onde estava completamente fechado, tem a virtude de entender suas limitações e faz disso um bom exercício de gênero.

    A necessidade de continuação possibilitou que o diretor John Krasinski pudesse trabalhar com os eventos seguintes de forma mais direta, deixando de se conter dentro de uma lógica falha de silêncio premeditado e de um drama familiar mal estruturado. Ao sair de um filme de cerco para um pós-apocalipse mais evidente, Krasinski resolve abraçar as convenções de gênero como forma de construir uma tensão muito mais honesta e funcional.

    “L-r, Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) and Evelyn (Emily Blunt) brave the unknown in A Quiet Place Part II.”

    O que antes era uma tentativa de inserir momentos arthouse (muito provavelmente influenciado pela onda de “pós-horror”), agora surge como uma simplificação dos acontecimentos e assume uma relação bem mais direta dos personagens com o meio que estão inseridos. Por colocar os elementos da mise en scene como existentes dentro do ambiente e não reduzi-los a meras sacadinhas, como no caso do prego na escada e as luzes vermelhas, acaba se favorecendo, justamente por tirar aqueles personagens de sua zona de conforto. Ainda que mire em um momento ou outro nessa abordagem – a sacadinha do “mergulhe” é lamentável – a construção oferece um direcionamento mais tangível e menos enfadonho.

    Um dos principais problemas do primeiro filme era a fraca tentativa de transformar a recente perda do filho mais novo e a imprescindibilidade do silêncio em um drama sobre distanciamento familiar. Com a morte de Lee (John Krasinski), Regan (Millicent Simmonds) carrega o luto e o legado deixado pelo seu pai de encontrar uma solução para enfrentar os monstros. Existe uma clara transferência de estado entre os personagens ocasionada pela culpa, mas Krasinski e Scott Beck (ambos assinam o roteiro) resolvem deixar de lado o sentimentalismo e usam como meio de ministrar os acontecimentos e as repercussões narrativas.

    Paramount/Divulgação

    Ao mesmo tempo que tudo ocorre de forma até bem burocrática dentro das convenções de gênero, Krasinski tem a liberdade de se desapegar das complexidades humanas envoltas em um cenário de sobrevivência e desenvolve um clássico terror de monstro. De certa forma, o abandono da tensão causada pelo barulho para uma focada nos monstros em si, tem por atributo explorar as possibilidades daquele universo sem precisar depender de alguma sustentação com a verossimilhança. A cena onde Regan e Emmett (Cillian Murphy) são cercados por “piratas” trabalha muito bem as diversas vertentes do terror que a situação oferece, mas sem cair no preciosismo de tratar tudo como extremamente perigoso. Reconhece bem quando e como se posicionar nesses momentos. Essa mesma liberdade pode ser sentida nos momentos em que a direção se permite fazer uso de um contraste mais explícito, buscando estabelecer uma sensação atmosférica mais franca. Compõe com sombras mais definidas, expõe o susto como elemento pertencente ao ambiente e age dentro da percepção de poder assumir o gênero sem vergonha e com as limitações que uma produção hollywoodiana oferece.

    Ainda sofra dessa lógica comercial que o impõe a existir, (mesmo contra a vontade de seu criador, no qual transita entre não querer continuar e estar pensando na terceira parte) Krasinski desfruta dessa situação não só para retificar sua carreira como diretor, mas também para se divertir de forma mais descompromissada com o gênero que tanto admira. Usar uma sequência para ressaltar a importância de existir filmes que fundamentam gêneros é bem mais interessante do que só fazer outro material lucrativo.

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