seg, 25 novembro 2024

Crítica | Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós

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No documentário Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós (2022), o cineasta André Bushatsky revisita a Segunda Guerra Mundial pelos depoimentos de sobreviventes do Holocausto que conseguiram escapar do pesadelo nazista e reconstruíram suas vidas no Brasil.

Ao encontrar a necessidade de compreender melhor suas raízes austríacas, tendo em vista os trágicos motivos que levaram seus avós maternos a fugir do seu país natal, durante a ascensão do nazismo na Europa, no início do século XX. Esclarecer o porquê de a História possui o pendor para a repetição e compreender as falhas da humanidade que permitem extremismos, destacando o temível avanço de políticas de extrema direita não apenas no continente europeu, mas nos quatro cantos do mundo, são fatores que, juntamente com a delicada ideia de ouvir os sobreviventes da tamanha atrocidade praticada durante a Segunda Guerra Mundial, fizeram com que Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós se concretizasse.

Curto, porém direto em sua abordagem complexa, didática e minuciosamente pesquisada, o documentário de apenas 1 hora e 10 minutos aproveita bem sua metragem para se estabelecer como uma obra completa, carregada de uma extrema sensibilidade e debates constantemente trazidos a tona desde o avanço do multiculturalismo. O roteiro bem construído de André Bushatsky, a partir dos estudos e depoimentos coletados para a construção do longa documentado, permite  que a narrativa do projeto seja dividida em 3 partes: a primeira, que mostra um breve contexto histórico que levou ao holocausto e como a Alemanha reconhece as atrocidades cometidas nas décadas de 1930 e 1940 do século passado e luta para o não esquecimento das barbáries, a segunda que foca nos depoimentos e histórias de vida daqueles que nasceram novamente pós Segunda Guerra Mundial e escolheram o Brasil como asilo, e o terceiro que destaca a questão migratória nos tempos atuais e como a diversidade cultural e religiosa promoveu uma onda preocupante de xenofobia e enfraquecimento democrático, tal como no período pré-guerra.

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Zeev Wolf Litwak, um dos sobreviventes do holocauato. Imagem: Reprodução

Todas essas etapas narrativas de Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós se conectam entre si e promovem para a produção um caráter informativo, assim como sentimental e reflexivo. Depoimentos poderosos de personalidades, como o filósofo Mário Sérgio Cortella e o jornalista Pedro Bial, trazem forças no apelo histórico e documental, principalmente quando se é debatida infeliz repetição da história que levaram a humanidade ao caos. A ascensão de ideais nazistas até mesmo no ambiente escolar brasileiro, na década de 30, e a formação de grupos neo, são amplamente citados e criticados por Cortella e Bial.

No lado mais sensível e igualmente triste e revoltante de Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós, temos os precioso registros de pessoas que vivenciaram o horror dos campos de concentração na infância e adolescência. Algumas delas, que chegaram a presenciar a morte de familiares e carregar corpos nas ruas para cremação em troca de um pedaço de pão, carregam essas cicatrizes, mesmo tendo elas as chance de renascer. São depoimentos, de fato, emocionantes e bem empregados ao documentário, de: Sarah Lewin, Miriam Nekrycz, Alice Farkas, Rafael Teitelbaum, Joshua Strul, Andor/André Stern (o único brasileiro sobrevivente do holocausto, falecido em 2022), Daniel Roth, Jan Farsky e Zeev (Waldemar) Wolf Litwak.

De tamanha sensibilidade e compromisso para com a História, almejando que o público reflita sobre como a humanidade insiste em repetir os mesmos erros e compreender como evitar a fobia irracional pelo multiculturalismo, Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós é uma produção decidida, produzida com esmero narrativo e técnico, que servirá de ensinamento para a posterioridade.

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