qua, 1 maio 2024

Crítica | Uma Carta Para Papai Noel

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Em Uma Carta Para Papai Noel, o Bom Velhinho recebe uma carinhosa cartinha de Jonas, um menino órfão de oito anos que vive em uma casa de acolhimento na fictícia cidade de Vila Alegre, no Rio Grande do Sul. Na correspondência, Jonas pergunta sobre como é a vida de Noel quando não está entregando presentes e revela que ele e seus amigos nunca receberam presentes no Natal. Emocionado com o interesse do menino e intrigado, Noel viaja ao Brasil para descobrir este mistério.

Produções natalinas que aderem o intuito de aquecer o coração do público e encher seus olhos d’água tendem a esbanjar sentimentalismo, humor e uma linguagem voltada para típicas lições de moral que parecem mais prudentes somente no final do ano. Tais ingredientes, quando misturados com uma generosa dose de fantasia, chegam a funcionar e agradar o público com o básico. Mas, também há casos raros em que, por exemplo, um típico questionamento pode subverter temáticas natalinas a ponto de tornar a tradicional pieguice de filmes dessa época do ano mais interessantes.  

Em Uma Carta Para Papai Noel, o cineasta Gustavo Spolidoro parte de uma pergunta feita pela sua própria filha quando era criança: “O que o Papai Noel faz nos outros 364 dias do ano?”. Uma série de questionamentos sobre a vida do Bom Velhinho, a ponto de humanizar sua figura mítica, vêm à tona e essa busca por respostas ganha vida através de uma aventura infantil destinada às crianças pequenas, que chega a frustrar as mais velhas, e até os adultos, que se sentiram atraídos por essa boa ideia.  

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José Rubens Chachá e Totia Meirelles como Papai e Mamãe Noel. Imagem: Okna Filmes/Pandora Filmes/Reprodução

Apesar de sua premissa louvável, Uma Carta Para Papai Noel é uma produção que se escora na reciclagem de elementos que compõem uma fantasia hollywoodiana de baixo orçamento, chegando até a inserir elementos do folclore estrangeiro, o que não é errado em filmes desse gênero, já que o imaginário precisa ser explorado, porém com sabedoria e não a partir de excessos, repetições e uma forçada linguagem que almeja desesperadamente chamar a atenção do público que devia sair da sala de cinema maravilhado e emocionado com uma bela mensagem natalina, mas acaba finalizando a sessão questionando o porquê daquilo ter sido realizado tão aquém do esperado.  

Chega a ser desnecessário mencionar a inspiração de Gustavo Spolidoro, que divide o roteiro com Gibran Dipp, e da Okna Filmes em clássicos natalinos da Sessão da Tarde, para a criação das principais situações e conflitos (inseridos sem qualquer motivo ou objetivo plausível) de Uma Carta Para Papai Noel. O grande estorvo que faz a produção nacional não alcançar, pelo menos, um patamar de divertimento semelhante ao desses longas, seja sua falta de originalidade e o apelo por clichês e humor datado, que (às vezes) só funcionam em produções que carregam consigo memórias afetivas. O aceno desvergonhado para esses elementos em questão, que chegam a vir acompanhados referências sem sentido à cultura pop, na intenção de despertar um mínimo de interesse nos adultos que acompanham as crianças na sessão, transformam o longa natalino de Spolidoro numa verdadeira bagunça trivial de informações e situações sem divertimento, reciclados sem qualquer esmero técnico e narrativo.  

Que culpa tem um núcleo infantil promissor quando a direção simplesmente ofusca o brilho de jovens atores, inserindo personalidades mal construídas e ignorando qualquer intenção de desenvolvimento de personagens? Esse descaso contra o grupo de pequenos atores e atrizes que poderiam salvar Uma Carta Para Papai Noel do pastiche natalino infantil é um dos, se não o maior, fatores que comprovam o descompromisso da equipe de produção para com a obra. Caetano Rostro Gomes, que se esforça intensamente para dar vida ao protagonista Jonas, divide seus breves momentos com os igualmente subaproveitados Lívia Borges Meinhardt (Beca), Theo Goulart (Cabeleira), Marina Lopes (Alana) e Cecília Guedes (Pri). 

 Além do gritante desperdício de um elenco infantil competente e esforçado, a subutilização de grandes nomes da TV e do cinema nacional também é um fator problemático. Nomes consagrados como José Rubens Chachá, Totia Mieirelles, Elisa Volpatto e Polly Marinho se desgastam desnecessariamente em personagens estereotipados e, por vezes, irritantes, que tentam ser subvertidos pelos talentos de seus intérpretes. Há, por outro lado, breves interações entre o núcleo adulto que arrancam discretas risadas, principalmente entre Chachá e Marinho, mas que logo extrapolam os limites de um humor já forçado, se tornando repetitivo a ponto de se assemelhar a uma live de NPC, o que se intensifica quando nos damos conta do comportamento infantilizado de alguns personagens, além de seus figurinos e maquiagens que ostentam cores vibrantes e acabamentos discutíveis.  

José Rubens Chachá e Polly Marinho conseguem desenvolver uma boa química. Imagem: Okna Filmes/Pandora Filmes/ Reprodução

Com lançamento nos cinemas brasileiros agendado para esta quinta-feira (14), Uma Carta Para Papai Noel vai divertir crianças de até, aproximadamente, 6 anos de idade, podendo também despertar no público menos exigente e despreocupado com clichês e problemas de narrativa, uma emoção típica de se sentir em produções voltadas para a época mais bonita do ano.

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