Uma Noite de Crime é uma franquia de terror da Blumhouse, que tem como proposta mostrar a sede de violência que o “cidadão de bem” possui. A obra faz (leia: tenta fazer) algumas críticas a política americana e ao povo americano, mesclando isso com doses de violência. É impossível de negar que após oito anos (são cinco filmes e uma série de TV) a qualidade das produções foi diminuindo. Para tentar resgatar a essência, estreia nos cinemas nesta quinta-feira Uma Noite de Crime: A Fronteira. A nova trama conta a história de um casal de imigrantes mexicanos que vivem no Texas. Na manhã seguinte ao Expurgo, uma gangue mascarada de assassinos ataca o casal, forçando eles a lutarem enquanto o país começa a ruir.
A premissa de todos os filmes é interessante. Imagine, como seria se houvesse um dia do ano, no qual poderia se cometer qualquer crime sem nenhuma punição? Os debates sobre isso também seriam interessantes. Mas em todas as obras sobre o tema, o resultado é o mesmo. A premissa é deixada de lado, em prol da violência. O que é um desperdício de potencial. Como a nova trama se passa perto da fronteira entre os Estados Unidos e o México, questões como: xenofobia, diferenças de classes sociais e o nacionalismo exagerado são abordados. Mas é uma pena que, mais uma vez, essas questões sejam apenas pinceladas e nunca aprofundadas de fato. O terror da situação e a violência então compensam, né?
Não. O roteiro escrito por James Demonaco, criador de todas as obras da franquia, não consegue criar tensão com as situações apresentadas, preferindo apenas traçar um discreto comparativo com algumas especificidades políticas, vistas recentemente no governo de Donald Trump. O filme mostra o extremo dos discursos intolerantes do ex-presidente, que vezes ou outras são reproduzidos por outros ao redor do mundo. A violência e as mortes na história acontecem até que de modo discreto, as cenas de ação e tiroteio são bem filmadas pelo diretor Everardo Gout (Days of Grace). Destaque para alguns planos sequências que são executados durante a projeção, como a cena próxima da fronteira Mexicana, que acontece em meio a um intenso tiroteio. Um erro da direção, que mais frusta do que qualquer outra coisa, é o uso de Jump scare para causar medo. Não temos aqui situações que apavorem, mas esses sustinhos baratos, acontecem quase que de modo cronometrado pela direção.
Outra falha da direção e do roteiro são os diálogos apresentados, alguns dão vergonha. Mas outros até conseguem mostrar algo de interessante. Em um dado momento, um personagem explica que não é racista, declarando: “não acredito que os brancos sejam melhores ou piores do que ninguém, mas acho que as culturas não devem se misturar…”. Demonaco nesse breve diálogo, revela como boa parte das pessoas (em especial, as americanas) pensa, a tensão por esse racismo velado existente poderia gerar algo de interessante na trama ou pelo menos na cena, mas a direção opta pela broxante opção de deixar o assunto em off e nada acontece.
As performances são as melhores coisas que o filme oferece ao público. Os destaques são: Ana de la Reguera (Army Of The Dead) e Tenoch Huerta (Narcos: México), que conseguem apresentar com sua expressividade o temor da situação que vivem. Josh Lucas (Doce Lar), cria um personagem desagradável que está do lado dos mocinhos, o que é interessante de se ver. Os vilões, em especial os apresentados no último ato, são retratados apenas como nazistas, psicopatas ou delinquentes que vão morrer em breve, sem dizer para o que vieram.
Entre erros e acertos Uma Noite de Crime: A Fronteira não é ruim, mas está longe de alcançar todo o potencial que sua perspicaz premissa promete a cada filme. Que o próximo filme, que deve ser o último, mostre o caos de modo amplo e sem medo. Às vezes colocar o dedo na ferida pode ser algo proveitoso, pelo menos nas feridas da sociedade.