seg, 23 dezembro 2024

Crítica | Vale Night

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Talvez a maior qualidade de Vale Night seja lidar com a comédia do desconforto. O filme deixa muito claro o risco envolvido por seu protagonista e, diferente da grande parte de filmes brasileiros voltados para o humor, aqui a coisa felizmente não cai no ridículo.

Vini (Pedro Ottoni) e Daiana (Gabriela Dias) são dois jovens na faixa dos dezoito anos que adoram curti as noitadas e estão à espera do primeiro filho. É justamente numa balada que o bebê acaba nascendo, mas, seis meses depois, o casal começa a entender que a vida deles mudou drasticamente – ao menos para Daiana, que largou a escola para cuidar do filho e fica o dia inteiro em casa, cozinhando e limpando, enquanto Vini fica na rua, brincando de trabalhar e se divertindo com amigos.

Quando a saudade da avó (Zezé Motta) bate, Daiana e sua mãe (Maíra Azevedo) decidem ir visitá-la, deixando a criança aos cuidados do pai. Por isso, Vini precisa ser responsável, porém, isso será mais complicado do que ele imaginou, pois acontece justamente quando Linguinha (Yuri Marçal) é libertado e a DJ Pulga (Linn da Quebrada) fará sua estreia na discotecagem da boate Batekoo.

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O longa traz uma bela quebra de barreira: geralmente pensamos que filmes passados em favelas precisam envolver polícia, violência, tráfico – ao contrário do que vem sendo mostrado no audiovisual, nestes locais a maioria dos moradores são pessoas comuns, trabalhadores, estudantes: pessoas que levam seu dia a dia como qualquer outro. Vale Night junta uma situação absurda (o sumiço do filho de Vini) e a favela como pano de fundo, onde seu protagonista terá que realizar sua jornada.

A favela é filmada pelo diretor Luis Pinheiro com longos planos-sequência, mostrando todo o caos e sentimento vibrante que o ambiente passa. É uma situação coletiva, a correria presente na comunidade. As músicas escolhidas são muito boas, combinam com o ambiente, e trazem uma sensação bem dinâmica.

Ocasionalmente, o trabalho de Pinheiro chega a lembrar os filmes dos irmãos Safdie, que sabem lidar muito bem com essas histórias passadas em uma noite, com forte o senso de correria e da iminência de tudo dar errado. Mas, infelizmente, Vale Night acaba arruinando sua proposta, abandonando a seriedade da situação na hora clímax e joga fora toda a consequência que o personagem deveria enfrentar devido suas ações irresponsáveis. É um desfecho covarde, que passa a mão na cabeça do protagonista, e fazendo um desfecho rápido e preguiçoso.

Vale Night é corajoso ao trazer o desconfortável no ponto de partida, mas, no desenrolar, escolhe o caminho mais fácil. É muito bom ver uma comédia nacional que não caia necessariamente no pastelão tão comum em produções nacionais mais televisivas, mas suas decisões finais quebram boa parte de suas propostas – trazendo ainda nos créditos um desnecessário discurso didático.

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