seg, 20 maio 2024

Crítica | Vermelho Monet

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Em Vermelho Monet, somos apresentados a Johannes Van Almeida, um pintor recém saído da prisão que se tornou obsoleto. Com a visão deteriorada e à beira de um colapso, encontra na jovem atriz Florence a inspiração para realizar sua obra prima. Enquanto isso, Antoinette, uma influente marchand de arte, promove o encontro entre os dois a fim de lucrar com o trabalho de Johannes, e a história de inspiração toma rumos questionáveis.

A obsessão pelo ato de perverter e, até mesmo, prostituir a arte, culminando no insaciável desejo capital a ponto de desvincular-se dos conceitos artísticos ou escantear verdadeiros e anônimos artistas enquanto o destaque vai para indivíduos e corporações de renome, são fatores que movem Vermelho Monet, novo filme do cineasta cearense Halder Gomes, que se desvincula de sua zona de conforto, responsável por conceber os ótimos Cine Holliúdy e O Shaolin do Sertão, para encarar um drama obscuro repleto de grandes ideias que não são bem utilizadas ao longo da trama.

Ao aparentemente dominar a complexa temática da história da arte, Halder Gomes se mostra confiante e um bom entender do assunto, puxando mais para um lado técnico. Em seu roteiro, repleto de diálogos, ora elegantes, ora mecânicos, a respeito do tema, que parecem ter sido frutos de uma pesquisa acadêmica, devido ao modo didático como o texto se comporta em diversos momentos, Gomes verdadeiramente se esforça ao fazer suas ideias funcionarem, mesmo com o iminente risco de se perder ou não saber aonde quer chegar.

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Imagem: Pandora Filmes/Reprodução

Há amálgamas narrativas que, de fato, movem o filme e se provam importantes, como a questão da falsificação de obras de arte e o valor exorbitante atribuído a trabalhos artísticos considerados triviais, enquanto artistas ocultos de grande técnica e talento permanecem no anonimato e beirando a pobreza. Porém, tudo parece bem apresentado, mas não devidamente explorado, tornando-se, na verdade, arrastado e repetitivo, a ponto de gerar uma desnecessária metragem de 2 horas e 20 minutos de projeção.

Curiosamente, o desejo de Johannes, um dos personagens principais que é interpretado de maneira visceral pelo brilhante Chico Díaz, torna-se semelhante ao de Halder Gomes que é encontrar dentro de uma forma inspiradora a criação de uma obra-prima. No caso do pintor problemático, sua paixão se torna uma verdadeira obsessão, da maneira mais clichê falando. De fato, sua trama é bem desenvolvida, mesmo que seus objetivos acabem, ao longo da história, tornando-se um tanto confusos, assim como as duas outras personagens principais, Florence e Antoinette. Destacamos aqui a exímia e catártica performance da jovem Samantha Müller e toda a elegância de Maria Fernanda Cândido, que entrega uma antagonista soberba e repleta de malícias.

Imagem: Pandora Filmes/Reprodução

Dividido em segmentos, tal como uma sinfonia, o apreço pela estética e valorização artística é, de fato, admirável em Vermelho Monet. Mesmo distante da sutileza, o longa luso-brasileiro acerta ao prezar por uma originalidade visual que sempre será bem-vinda no cinema nacional. O colorido vivo e saturado em diversas sequências são um deleite estético, assim como a composição e enquadramento de imagens pela fotografia, que remetem a quadros e pinturas famosas, exercendo um belo casamento com a condução detalhista de Halder Gomes na direção. A trilha sonora, que adapta clássicos da música erudita, participam ativamente da trama.

Vermelho Monet funcionaria de maneira exímia se o mergulho no submundo das artes como forma de obsessão fosse tratado com mais esmero no argumento, tornando evidente que a narrativa, mesmo contendo um grande apelo visual, carece de um texto melhor.

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