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    Crítica | Vidas Passadas

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          Três pessoas se reunem em um bar, dois homens e uma mulher. Não se sabe ao certo do que eles estão falando mas é fácil perceber uma tensão, ou melhor, um desconforto. Qual seria a história deles? Qual caminho seguiram para chegar até aqui? É nesse cenário que a diretora e roteirista Celine Song  convida o público para entrar em Vidas Passadas.

    O filme parte da infância de Nora eHae Sun, dois amigos extremamente conectados que tem sua relação repentinamente cortada pela mudança da família de Nora para a América do Norte. O tempo passa e cada um segue com a sua vida até que mais de uma década depois eles têm uma chance de se reconectar. Talvez o mais convencional para esse cenário seria esperar uma história de romance onde o reencontro dessas duas pessoas permite o reacender de uma paixão dormente, mas é no subverter dessa expectativa que o filme encontra sua voz.

          É ao não concretizar o romance, pelo menos não o esperado, e lidar com a passagem do tempo como algo transformador que Vidas Passadas consegue desenvolver seu drama. O conflito do filme não está entre escolher ou não retornar para uma paixão do passado, mas sim em saber que essa paixão já não condiz com o momento atual da sua vida. Tanto Nora quanto Hae Sung tiveram que fazer escolhas que determinaram seus caminhos, escolhas que nenhum dos dois necessariamente se arrepende e agora ao se reencontrarem precisam lidar com a realização trágica de que o tempo passa.

          O conceito de In Yun, uma expressão coreana que trata a conexão de duas pessoas como algo cíclico e acumulativo ao longo de várias e várias e tantas outras reencarnações, é explorado no filme como um símbolo de valorização das relações humanas mas também como uma forma que os personagens encontram para se contentar com a frustração que escolhas da vida podem gerar. Um romance não concretizado por circunstâncias de vida não precisa apagar a conexão entre duas pessoas mas ao mesmo tempo é compreensível que revisitar esse momento, trazer esses sentimentos à tona mesmo que no sentido de nostalgia, de carinho por um momento passado, ainda pode ser devastador.

          O longa consegue trazer tons de melancolia a mais ao examinar a situação do imigrante fora de seu país que já não acessa mais certas partes de si mesmo ao sair de sua terra. O romance que vem desse passado ainda na sua terra Natal também serve aqui como uma forma de Nora se reconectar com sua cultura e com as vivências que formaram ela em um período importante de sua vida.

          É um filme que encontra um recorte comovente de uma situação muito simples que se sustenta tanto nas atuações de Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro quanto no processo honesto e semi autobiográfico de Celine Song para trazer essa história à tona. Vidas Passadas é um conto tão trágico quanto corriqueiro e certamente merece a atenção que vem acumulando.

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