ter, 10 dezembro 2024

Crítica | Wicked

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Não é raro encontrar, hoje, nas redes sociais, comentários negativos sobre as produções musicais. Esse preconceito com o gênero sempre existiu, seja porque ele era considerado mais um tipo de “filme de mulher”, como os melodramas, ou devido a uma busca pelo realismo no cinema, o que exigiria uma reflexão mais aprofundada. De uma forma ou de outra, após a era de ouro de Hollywood, os musicais se tornaram filmes mais pontuais, com acertos e erros, e poucos fenômenos. Na Broadway, por sua vez, a longa história dos musicais registra montagens que ficam anos em cartaz, sempre com a sala cheia, ou remontagens feitas com certa regularidade, oferecendo, se não novas visões, ao menos um elenco sempre muito forte em suas performances.

Wicked é um desses musicais. Estreando em 2003 nos palcos entre as ruas 42nd e 53rd, com músicas de Stephen Schwartz e livro de Winnie Holzman, ele é uma reinterpretação da famosa história de O Mágico de Oz, mas a partir da perspectiva das bruxas de Oz, especialmente da Bruxa Má do Oeste, chamada Elphaba (na Broadway, interpretada por Idina Menzel), e da Bruxa Boa do Sul, Glinda (na peça, vivida por Kristin Chenoweth). Desde 2012, pelo menos, há notícias sobre a adaptação do musical para o cinema e, finalmente, nesta quinta-feira, 12 anos depois, a primeira parte da história de como Elphaba se tornou a Wicked Witch of the West chega às telas, com Cynthia Erivo e Ariana Grande nos papéis principais.

Existe, por parte de Jon M. Chu, diretor dessa versão, uma preocupação em respeitar o material de Schwartz e Holzman, ao mesmo tempo em que imprime sua própria marca e suas próprias decisões na narrativa. É inegável a habilidade dele em lidar com a complexidade dos números musicais mais grandiosos, que devem não apenas dar conta das vozes que assumem as rédeas, mas também apresentar um universo para quem não conhece, mostrando como trazer as características expostas no palco.

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A primeira música, No One Mourns The Wicked, já deixa claras essas características, principalmente por ser uma das centrais quando se pensa nas qualidades que o projeto carrega: há um trabalho com o coro, a apresentação de Glinda, que se posiciona entre a comemoração e certa melancolia pelo que acontece com Elphaba — central para o funcionamento da narrativa —, uma montagem que precisa dar conta das tonalidades rítmicas das músicas, além de trazer a vividez do mundo de Oz para a linguagem cinematográfica (afinal, como esquecer dos tons de verde, rosa e vermelho em O Mágico de Oz (1939), de Victor Fleming?).

Se a primeira característica — o coro — era um dos grandes pontos do musical, ela continua sendo um elemento central nesta adaptação. O segundo ponto, relacionado a Glinda, destaca-se pelo excelente trabalho de Ariana Grande na transição entre os momentos de comédia, em que suas gesticulações e mexidas no cabelo se tornam uma marca, e os momentos de afeição e preocupação por Elphaba, que tornam evidente o avanço da narrativa. Grande assume um papel difícil, originalmente interpretado por Kristin Chenoweth, e consegue modular com habilidade a personalidade de Ga-linda.

Cynthia Erivo, por sua vez, é o ponto alto de todo o filme. Embora seu talento como atriz e cantora seja amplamente reconhecido, é sempre uma surpresa como ela consegue adicionar tantas tonalidades à personagem. Elphaba, por si só, é uma figura fascinante, e Erivo a constrói de maneira brilhante até o clímax desta primeira parte, ao som da música mais conhecida do musical, Defying Gravity. Tanto ela quanto Ariana Grande, dentro dos limites do livro musical, fazem desse momento algo grandioso, como deve ser. Mas, reparem, dentro dos limites do livro musical.

Os dois pontos seguintes são problemáticos: um diz respeito ao filme, o outro, de forma geral, às produções contemporâneas dentro do formato hollywoodiano, principalmente. Vamos ao ponto: por se tratar da primeira parte, com 160 minutos de duração, o filme, em sua metade, parece perder um pouco de força e ritmo, mas logo retoma o fôlego com a ida das protagonistas para a Cidade das Esmeraldas. O segundo ponto está relacionado à vividez do mundo de Oz.

Mesmo sendo um musical repleto de tons e cores, as imagens nunca parecem, de fato, vibrantes. Há uma enorme quantidade de filtros aplicados — seja devido aos efeitos visuais, seja pela alta qualidade que revela em detalhes o rosto dos atores — que, quando não escurecem a imagem (como na sequência de I’m Not That Girl), acabam por reduzir a profundidade plástica. Repito: essa característica não se limita a Wicked. Ainda assim, é notável a força com que o longa se inicia e termina, alcançando a sensação de ser uma boa adaptação para quem já conhece a obra, apresentando esse universo para os que não conhecem, e colocando Jon M. Chu no radar de bons diretores para lidar com o gênero musical.

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